O jornalista e crítico musical Pedro Alexandre Sanches está lançando, através das Edições Sesc, o livro “Álbum 2 – 1972 a 1978: samba, rebelião sexual e segundo levante negro” (capa acima). O livro é o segundo da série “Álbum: a história da música brasileira por seus discos”, que pretende contar a história da música brasileira a partir de álbuns memoráveis. Neste que ora está sendo promovido, o autor se debruça sobre o período histórico em que a ditadura imperou no Brasil, e traz uma lista de 95 obras emblemáticas, seja pelo sucesso que fizeram, ou por trazer inovações ou criações no gênero musical.
Sanches destaca que a primeira metade da década de 1970 trouxe a gravação de álbuns conceituais que nortearam a produção musical do país. Ele afirma que o mesmo governo que se instalou no país com o Golpe civil-militar de 1964 e que censurou muitas das obras que estão presentes no livro, foi quem, paradoxalmente, incentivou a música brasileira com abatimento de impostos para as empresas produtoras de discos.
“Um retrato perfeito do dinamismo e da expansão das gravadoras foi o selo ‘Disco é cultura’, inserido nas contracapas dos LPs como sinalização não assumida de que havia investimento do governo federal naqueles produtos de artistas brasileiros. (…) Hoje parece paradoxal que a ditadura de direita investisse na música brasileira que ela própria censuraria a seguir. No entanto, as complexas motivações para o crescimento do bolo fonográfico na década de 1970 têm como ponto de partida o estímulo ao consumo (e ao consumismo) forjado naquilo que os militares batizaram de ‘milagre econômico brasileiro’”, diz o autor num trecho da obra.
A ditadura atravessa o período destacado no livro e tem influência na seleção, como é o caso de Calabar, de Chico Buarque. O álbum teve o desenho de sua capa – com uma pichação em um muro– censurado, e foi obrigado a fazer várias alterações para ser aprovado pelo regime. “Mas nós colocamos a capa original na lista”, conta o autor.
De acordo com ele, “Álbum 2 – 1972 a 1978: samba, rebelião sexual e segundo levante negro” (capa acima), é uma seleção histórica e bastante criteriosa, mas que busca também atravessar os preconceitos. Tem Gilberto Gil, João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso, Elis Regina, Edu Lobo, Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Maria Bethânia, Rita Lee, Tim Maia, Milton Nascimento e outros nomes consagrados, mas também os considerados bregas, o sertanejo, a música de candomblé, todos tiveram e têm a sua importância histórica.
O diretor regional do Sesc São Paulo Danilo de Miranda fala sobre o livro: “ele costura uma arqueologia de diversos discos e artistas desse período, marcado por relações conturbadas com a censura imposta pela ditadura militar, que tomou de assalto o poder. O Sesc, que tem nas memórias e na democratização da cultura valores centrais de sua atuação, reitera seu compromisso com a oferta de canais de desenvolvimento e apropriação de repertórios para os públicos por meio de conteúdos educativos e socioculturais com a perspectiva de contribuir para a preservação das memórias sociais e a formação de cidadãos plurais”.