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Marcelo Nova revela álbuns que influenciaram sua carreira

camisa de venus

O roqueiro Marcelo Nova já não se surpreende quando jovens fãs lhe procuram para autografar antigos vinis e CDs de sua banda, Camisa de Vênus. Ainda que alguns destes trabalhos não estejam mais no catálogo das gravadoras. “São discos comprados no Mercado Livre”, diverte-se o vocalista, destacando ainda que a adoração pelo Camisa, muitas vezes passada de pai pra filho, lhe remete aos tempos de adolescência, quando ele era capaz de enfrentar uma viagem de 28 horas de ônibus, de Salvador para o Rio, somente para comprar discos. “Valia cada segundo dentro do ônibus. Eu ía ao encontro da música, e não o contrário. É o que acontece com essa garotada, que procura nossos discos na internet e em sebos”.

Bom de papo, autêntico e apaixonado por música desde sempre, especialmente se ela vier de vinis e CDs, sendo tocada no que ele chama de equipamentos de som de verdade (“não ouço música em caixinha de som ou celular!”), o cantor e compositor fala de seu trabalho (à frente do Camisa ou solo) com a mesma irreverência e alegria que mostrava em meados dos anos 80, quando a banda explodiu em todo o Brasil com hits como Eu não matei Joana D’Arc, Só o fim, Simca Chambord e Silvia. Clássicos que não costumam faltar nos muitos shows que a banda baiana segue realizando por todo o Brasil.

Com uma ressalva. O quinteto ainda faz questão de apresentar surpresas e coisas novas ao público, incluindo as canções de Dançando na lua, primeiro álbum de inéditas do Camisa em 20 anos (lançado em 2016). “Poderíamos fazer tranquilamente um show com 16 sucessos. Isso seria fácil. Mas não nasci para ser maestro do ‘Baile da Saudade’. Tocamos material novo, canções menos conhecidas… procuramos variar o repertório. E ainda assim o público, inclusive a molecada, conhece a maioria das letras. O que mostra que sigo no caminho certo (risos)”, diz. Marcelo conta ainda que o atual espetáculo da banda celebra a antiga afinidade dele com o saudoso amigo Raul Seixas. Não por coincidência, o show leva o nome de Toca Raul. E é dividido em duas partes: a primeira, acústica, traz canções do repertório do Maluco Beleza, incluindo faixas do disco Panela do diabo, gravado por Raul e Marcelo, em 1989. A segunda, elétrica, traz os “petardos” do Camisa.

Convidamos o artista a escolher dez álbuns marcantes em sua vida. Dez trabalhos para ilustrar um pouco mais esta paixão imensurável do cantor pela música. Sem titubear, Marcelo Nova pinçou de sua enorme coleção de heróis musicais oito discos de rock, um de um bluesman e outro de um saxofonista de jazz. Obras-primas que, segundo ele, em nada se parecem com o atual momento da música, repleta de “ídolos efêmeros que surgem do nada e desaparecem em dois ou três anos sem ninguém sentir falta”.

Here’s Little Richard (Little Richard)

“O primeiro disco da carreira do Richard foi também o primeiro disco que eu tive. Tornou-se uma referência na minha vida. Guardo comigo até hoje. No Brasil, foi lançado com o título Aqui, Little Richard. É curioso lembrar que naquela época os títulos dos discos internacionais ganhavam tradução”.

Live at the Star Club (Jerry Lee Lewis)

“Ele tem vários discos excelentes, mas esse é de uma selvageria incrível. Foi gravado em Hamburgo, na Alemanha, numa época em que diziam que Lewis e outros precursores do rock já haviam sido deixados de lado por conta da euforia com os Beatles e outras bandas inglesas e americanas. Aí ele fez esse show raivoso pra mostrar para as novas bandas que ainda era o cara. E conseguiu!”.

Love and Theft (Bob Dylan)

“Dylan é referência para todo mundo que escreve em forma de canções. É o maior compositor de música popular de todos os tempos. Recentemente, quando ganhou o Nobel de Literatura, vi muita gente ironizar a escolha, argumentando que nem escritor ele é. Aí pergunto: quantos livros escreveu William Shakespeare? Ele era um dramaturgo, escrevia peças. E isso não diminui em nada o impacto de sua obra. Não faz dele um autor ou escritor menor. O mesmo vale para Dylan e suas canções”.

Electric Ladyland (Jimi Hendrix Experience)

“Um dos melhores discos de rock de todos os tempos. Porém, mais do que isso, foi minha trilha ‘alucinógena’ preferida quando eu era menino (risos)”.

Vagabond Ways (Marianne Faithfull)

“Minha cantora predileta desde sempre. Eu tinha foto dela na parede do quarto quando tinha 16 anos. Preencheu meu imaginário durante muito tempo. Sabe que por mais sucesso que Mick Jagger tenha alcançado, o único motivo que me faz ter inveja dele é ele ter comido a Marianne”.

Novo Aeon (Raul Seixas)

“Acho que por conta desse disco, Raul tenha se tornado o primeiro letrista brasileiro no qual eu prestei atenção. Que eu conseguia entender e com quem me identificava. Ele era muito diferente do “barquinho” da Bossa Nova, da busca pela felicidade, da alegria etílica, aquele papo que a gente ouvia não só na Bossa Nova, mas também na MPB da época. Raul era exatamente o oposto daquilo tudo e por isso me cativou”.

Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols (Sex Pistols)

“Por causa do Sex Pistols, em especial deste álbum, escolhi o caminho que tomei. Eles faziam barulho sem virtuosismo, mas com consistência. Pensei: “se eles conseguem, por que eu também não conseguirei?”. Eu e meus amigos, lá no início, não tínhamos experiência e tanta técnica, assim como eles, mas tínhamos talento e sobretudo determinação”.

My Secret Life (Eric Burdon)

“Sou suspeito pra indicar esse disco, porque traz três faixas compostas por mim, o que foi uma grande honra. Uma delas em parceria com Eric. É claro que tenho muita afeição por esse projeto. Uma das minhas canções é Motorcicle Girl, que escrevi para a Marianne Faithfull”.

Lightnin’ in New York (Lightnin Hopkins)

“Meu bluesman favorito em todos os tempos. Tenho a obra completa, mas esse disco dele é o meu preferido. Apenas ele e o violão, sem grandes recursos de estúdio. Genial!”.

See You at the Fair (Ben Webster)

“Grande saxofonista de jazz, um dos mais respeitados da história e o meu preferido. Tocou muito com Duke Ellington, teve uma carreira longa, mas num determinado momento da vida resolveu deixar a efervescência da cena norte-americana para morar na Europa. E lá acabou gravando discos espetaculares, como esse”.

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