Acostumado a mesclar canções românticas com outras de protesto e cunho social, o rapper Projota soube vencer as adversidades que se impuseram em sua jornada e construir uma carreira de sucesso, ao longo de mais de duas décadas. Começou nas batalhas de rima e, anos depois, conquistou o país com suas letras e seu flow, mas sempre manteve o tom político da sua arte. Desde janeiro sem lançar música, o rapper retorna para botar para fora toda sua indignação contra a opressão racial no lançamento do single “Corra!”, disponível nos aplicativos e e com o respectivo clipe postado no canal do artista no YouTube — que conta com 6,7 milhões de inscritos.
No single, com letra autoral, ele abusa de arranjos refinados e da lírica que o consagrou, mas dessa vez explorando o drill — subgênero do rap surgido em Chicago (EUA) a partir do trap, pautado por batidas graves de climas sombrios e bastante propagado nos últimos dois anos. O cantor paulistano informa que contou na gravação com a participação do produtor paulista Insane tracks, responsável pelos beats, efeitos e arranjos. Em tom de revolta, Projota, numa letra contundente, canta: “Querem que eu fique calado, preto não pode falar / Querem que eu seja um bom gado, pra ser fácil de domar / “Povo brasileiro é tão guerreiro ele sempre aprende a superar” / A gente não quer mais superação / A gente quer champagne com caviar”. Ou ainda nos versos: “Querem te seguir no shopping só pra ter certeza que você não é marginal / Querem te ver no farol, debaixo do sol, pedindo esmola no sinal / Querem que eu corra pra eles, trabalhe pra eles, que eu traga o troféu da final / Odeiam minha boca, nariz e cabelo, odeiam meu cheiro, mas amam meu… / Ces paga de lock, pegaram o rock e deram pro Elvis / Ces não me ama, ces não me engana / Ces que me cobra e ces que me deve / Como se atreve?”
Nesse sentido, não só as letras, mas o clipe da faixa também é repleto de referências: desde a coroa de Notorious Big e Jean Michel Basquiat, o trono que remete aos antepassados reais de Projota e, claro, o filme homônimo “Corra!”, sucesso do diretor Jordan Peele, “que abordou de forma contemporânea a angústia que o povo negro passa”, como afirma o cantor. Inclusive, o clipe está repleto de manchetes que escancaram tais absurdos e inspiraram o rapper a escrever.
Projota comenta sobre seu novo lançamento: “Compus essa música após muito tempo de reflexão e em meio a um profundo rancor que guardei por conta de cada momento em que o racismo se fez presente em minha vida. Nos meus últimos trabalhos eu estava lidando com questões internas como a depressão — e isso se refletia nas letras que falavam muito sobre os meus problemas –, mas agora me sinto apto novamente para falar sobre os nossos. Essa música é um grito de liberdade, é pra deixar claro que não somos descendentes de escravos, mas de reis e rainhas, além de religiosos, pensadores, poetas, músicos, médicos, engenheiros etc. “Corra!” é pra tacar fogo na casa grande”.
Assista ao vídeo de “Corra”, novo single de Projota: