Alguns astros da música urbana nacional tem usado as redes sociais para criticar uma declaração do cantor Rodriguinho no “Big Brother Brasil”. O ex-Travessos, em conversa com outros participantes do reality, comentou que esses astros são muito conhecidos dentro do segmento, mas são “artistas de nicho”, não podendo ser considerados “sucesso nacional”. Chegou a citar o funkeiro carioca Poze do Rodo — dos hits “A Cara do Crime” e “Me Sinto Abençoado” — para justificar sua fala. “Não tem nenhuma música dele conhecida em todo o Brasil — e eu mesmo não me lembro o nome de nenhuma delas”, disse.
Poze do Rodo, MC Hariel, MC Cabelinho e outros artistas da cena urban se rebelaram na web contra o pagodeiro, como se ele estivesse exagerando. Rodriguinho está certo. Ele é do tempo em que, para alcançar o sucesso, o artista obrigatoriamente tinha que tocar no rádio e participar dos principais programas de TV. A internet era incipiente e não havia plataformas digitais, tampouco redes sociais. Portanto, para que alguém no mundo da música pudesse ser considerado êxito nacional incontestável, era condição “sine qua non” liderar os rankings de execução em rádio e aparecer com frequência em programas como os de Gugu Liberato (SBT) e Fausto Silva (Globo), que dividiam a enorme audiência dos domingos naqueles tempos em que a TV aberta imperava — os canais por assinatura tinham baixíssima adesão e os serviços de streaming ainda não haviam sido inventados.
Os Travessos, com Rodriguinho à frente, chegaram, sim, a fazer sucesso nacional — assim como outros nomes do samba/pagode, como Só Pra Contrariar, Exaltasamba e Soweto. O grupo tocou à exaustão em todas as regiões do país, ditou moda (o cabelo descolorido de Rodriguinho foi copiado por milhares de jovens negros como ele) e fez centenas de shows, sobretudo entre 1997 e 2000. Os trappers e funkeiros que desdenham da declaração do artista no “BBB” nem tinham nascido naquela época. Mais que isso: são filhos deste novo momento do mercado musical, muito mais democrático e com menos esquemas do que outrora. Não é mais preciso investir milhões em marketing, tocar no rádio e na TV pra fazer sucesso e ganhar dinheiro. Basta gravar (não importa de que forma), subir a música nas plataformas e esperar que ela viralize na internet. Essa fórmula é justamente a que mais tem alavancado a carreira de astros urbanos, caso do citado Poze do Rodo. Porém ser forte no ambiente digital nem sempre é sinônimo de que o artista rompeu a bolha dos fãs-clubes e passou a ser conhecido (ou admirado) por todas as classes sociais e faixas etárias.
Portanto, me parece que Rodriguinho tem razão em seu ponto de vista. Poze, Cabelinho, Hariel, Ryan SP, Gaab (filho do pagodeiro, que mistura funk com vários gêneros), Xamã (que emplacou nacionalmente a faixa “Leão”, ao lado de Marília Mendonça) e outros urban stars são, sim, artistas de nicho. Tem fãs em todo país, milhões de ouvintes nos aplicativos de áudio, milhões de inscritos no YouTube e números superlativos nas redes sociais. Mas em nível geral tem menos abrangência e menor popularidade que nomes de outros gêneros, como Gusttavo Lima, Luan Santana, Thiaguinho, Ivete Sangalo, Lulu Santos, Ana Castela e Anitta, por exemplo. Esses tocam diariamente nas rádios, estão sempre na TV, são fortes na internet (em todos os sentidos) e estão no line-up dos mais variados tipos de eventos.