De todas as bandas icônicas do rock nacional dos anos 80, provavelmente a que tinha menor probabilidade de voltar aos palcos era o Metrô. São Paulo, Rio de Janeiro, a praia de Jericoacara (no Ceará) e Toulouse (na França) eram os endereços dos integrantes da formação original no final de 2014, o que dificultava o reencontro. Porém, exatamente como prega a letra de um dos hits mais marcantes do quinteto, “no balanço das horas, tudo pode mudar”.
Depois de morar anos em países africanos, acompanhando o marido diplomata, a vocalista Virginie Boutaud voltou a sentir o carinho dos fãs ao se mudar para a França. “Foram anos de pouco contato, por não haver internet boa na África. Quando nos estabelecemos em Toulouse, comecei a aparecer em redes sociais, a postar gravações e percebi uma resposta positiva do público. Isso aumentou minha vontade de retornar ao grupo”. Poucos meses depois, surgiu um convite inusitado ao quinteto: participar da festa de 50 anos do colégio paulistano Liceu Pasteur, onde os cinco músicos se conheceram. “Foi difícil, mas nos reunimos para o evento. Eu cheguei ao Brasil apenas no dia da festa, mas eles conseguiram ensaiar durante uma semana. E sentimos muita energia naquela noite”, lembra Virginie. “Juntou-se a isso o fato de que naquele momento, pela primeira vez nos últimos 30 anos, todos estávamos num período da vida em que era possível voltar a ter uma banda”, completa o guitarrista Alec Haiat.
Em agosto de 2015, veio a primeira apresentação para os fãs – no teatro da Unibes Cultural, em São Paulo. “Percebemos ali que ‘voltar’ seria a escolha certa”, conta Virginie. “O momento é menos propício ao rock, ao contrário dos anos 80, mas estamos muito a fim de tocar, criar coisas novas”, afirma Alec. Yann Lao (teclados), Dany Roland (bateria) e Zaviê Leblanc (baixo) completam o time. São os mesmos integrantes que gravaram os clássicos Beat acelerado, Sândalo de Dândi, Tudo pode mudar, Johnny Love e Ti ti ti. “O grupo teve idas e vindas, vários integrantes, mas essa é a formação clássica. Temos uma química muito boa”, explica Alec.
TÉCNICO PODEROSO
No embalo deste retorno, o LP mais vendido do quinteto, Olhar (de 1985), acaba de ganhar um relançamento, em CD duplo, com o disco original remasterizado e um segundo álbum com remixes e performances ao vivo inéditas. “A história por trás dessas gravações é bacana. Elas aconteceram durante a turnê do LP Olhar. E o técnico de som era o Paulo Junqueiro, hoje presidente da Sony Music. Ele próprio guardou essas fitas, que gravávamos para escutar como era o som dos shows e depois corrigir eventuais falhas. Agora, esse material faz parte deste relançamento pela Sony”, lembra Virginie.
Um projeto de inéditas também está nos planos, segundo a vocalista. “Já estamos testando novas composições nos shows. Caso de Dando voltas no mundo, que ainda vem sofrendo alterações (risos). Mudamos um arranjo num show, aí mexemos na letra em outro… Mas já é especial, por ser a primeira composição inédita depois desse reencontro”, emociona-se. O grupo tem se apresentado com frequência em grandes capitais e planeja uma turnê nacional. Recheada de sucessos, segundo Virginie: “Não faltará nada. Teve uma época em que queríamos marcar uma mudança de rumo e deixávamos de tocar um outro hit. Hoje queremos coisas novas, mas cientes de que os fãs querem ouvir todos os nossos clássicos. E não só isso. Querem ouvir exatamente como ouviam nos anos 80”, explica.
Em relação às novas composições, Alec pontua que o DNA da banda será mantido. “Seguiremos trilhando pelo rock e techno pop, mas isso não impede que a gente enfie um pouco de samba, ou até mesmo reggae, em canções inéditas. Sempre com arranjos familiares. Com a delicadeza da voz da Virginie e, em alguns momentos, um certo peso, algo sempre notado em nossas apresentações ao vivo”. O guitarrista também faz questão de dizer que essa volta é definitiva. “É real. Não queremos uma celebração ou um projeto pontual. O Metrô está de volta. Simples assim. E pra valer”.