O músico João Ventura saiu de Aracaju aos 18 anos para fazer faculdade de música em Salvador. Estudou, formou-se e aproveitou a efervescência da vida cultural noturna da capital baiana para ganhar experiência nos palcos e também arrebanhar os primeiros fãs. Tornou-se professor do Instituto Federal de Pernambuco e algum tempo depois ganhou uma licença para fazer um doutorado em piano em Lisboa… e o que seria “apenas” uma valiosa experiência acadêmica internacional, acabou mudando totalmente a carreira artística do pianista clássico.
Tudo começou com uma ligação de um conhecido do artista. Na verdade, o dono de um bar onde ele costumava se apresentar em Lisboa: “Parece até roteiro de filme. Este meu amigo ligou, perguntando se eu poderia ir lá naquela mesma noite, tocar para uma senhora. Perguntei quem era, mas ele disse apenas que estava planejando um sarau e que havia convidado inclusive outros artistas, de diferentes nacionalidades. Cheguei lá e descobri que a tal senhora era simplesmente a Madonna. Linda, loira, impactante… Sentei ao piano, comecei a tocar, bastante nervoso, mas a coisa fluiu bem. Aí de repente ela levantou, sorriu pra mim e começou a me filmar. Aí me empolguei e soltei as mãos. Toquei uma fusão de ‘Insensatez’ com ‘Sonata ao Luar’, do Beethoven. Ela gostou tanto que pediu meu telefone ao dono do bar e me ligou alguns dias depois. Queria me convidar para tocar com ela num grande evento em Nova Iorque”, relembra, entusiasmado.
A fusão tocada por Ventura para Madonna é uma das misturas de obras-primas da música clássica com pérolas do cancioneiro popular que o artista costuma fazer. Em apresentações na TV brasileira, por exemplo, o músico também juntou “Garçom” (Reginaldo Rossi) com “Voo do Besouro”, de Korsakov, e “Show das Poderosas” (Anitta) com música barroca. Já o “grande evento” do qual participou com Madonna nos EUA era simplesmente o Met Gala, tradicional cerimônia filantrópica realizada no Museu Metropolitan. Ventura tocou na oportunidade para personalidades como Gisele Bundchen, Lewis Hamilton e George Clooney. Algumas semanas depois, de volta a Portugal, onde a cantora norte-americana mora há alguns anos, o brasileiro recebeu outro convite da estrela pop: tocar numa das faixas do novo álbum da cantora.
A experiência com a Madonna não apenas abriu muitas portas ao artista, como também o ajudou a enriquecer seu trabalho. E sua auto-estima. Não apenas o encontro com a Madonna, mas todo esse período em Portugal, focado apenas em estudar e fazer música, fizeram com que eu me redescobrisse pessoal e culturalmente. Conheci uma força dentro de mim que não sabia que existia. Sempre fui muito tímido, com certa vergonha de mostrar meu trabalho musical. Hoje já não tenho mais medo do julgamento alheio. Minha confiança é muito grande”, avalia. Ventura confessa ainda que se orgulha de já ser bastante reconhecido na noite lisboeta: “Quase todo mundo conhece ‘aquele rapazinho brasileiro que mistura música clássica com popular’. E, claro, que tocou com a Madonna (risos)”.
Representado no Brasil pela Circuito Musical, escritório do experiente empresário Genildo Fonseca, João Ventura está de passagem por nosso país, onde tem realizado diversas apresentações nos palcos e na TV. Foi destaque nos programas do Faustão, Amaury Jr. e Ronnie Von. E tocou ao lado de Toquinho, Camilla Faustino e Proveta, no Teatro Opus, em São Paulo, e no Atheneu, em Aracaju, além de ter feito performances que encantaram o público paulistano numa missa da Catedral Anglicana. Também participou, ao lado do conterrâneo Mestrinho, do projeto “Fator Talento”, promovido pelo jornalista Gilberto Dimenstein na Galeria de Arte Urbana “Choque Cultural”. E deu uma canja no espetáculo “Um Concerto para João”, no Teatro Faap, ao lado do Maestro João Carlos Martins. Por sinal, o grande maestro já convidou o artista sergipano para abrir a temporada de 2019 do projeto “De Bach a Beatles”.
Voltando ao Velho Continente, iniciará a gravação de um álbum autoral, intitulado “Artemporal”. E deve se apresentar, em novembro, ao lado de Toquinho, na cidade portuguesa de Estoril. Até concluir seu doutorado, em Lisboa, somente no final de 2019, o artista deve retornar diversas vezes ao Brasil. Porém, ainda não sabe qual será seu destino após o curso: “Tem muita coisa acontecendo por aqui, mas também lá na Europa. Não abro mão de ter minha carreira no Brasil, mas meu coração quer continuar em Portugal. Só que eu costumo sempre errar ao fazer planos (risos). Então, deixo rolar e vejo depois o que acontece”, filosofa.