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André Drum detalha o trabalho da White Monkey

André Drum e Pedro Lotto
André Drum e seu sócio Pedro Lotto | Foto: Felipe Vieira/@felipenml

Quando o rapper Fabio Brazza, ainda adolescente, descobriu que um amigo de seu irmão era apaixonado por rap, ficou animado por poder “enfrentar” alguém que, assim como ele, também fizesse rimas. Mais velho e já acostumado com as chamadas “batalhas”, o publicitário André Drum topou a parada e mostrou ao novo amigo que ele ainda tinha um longo caminho pela frente “Dei uma sova nele. Mas logo percebi que se tratava de um menino muito culto, com raciocínio rápido. É claro que hoje ele está anos luz à minha frente”, diverte-se André. Os anos se passaram e foram generosos tanto com Brazza – hoje um dos maiores talentos do rap nacional –, quanto com André, que enveredou por outros caminhos profissionais até decidir retornar ao meio musical.

Após dirigir sua própria agência de publicidade, o executivo decidiu se juntar, no início do ano passado, ao amigo e produtor musical Pedro Lotto, abrindo em São Paulo a gravadora White Monkey. Logo no início da sociedade, surgiu a oportunidade de trabalhar com a promissora rapper Cynthia Luz. “Gravamos com ela e em um mês e meio sua música já estava estourada. Melhor começo, impossível”, celebra André.

Mesmo antes de abrir a WM, o executivo sempre esteve envolvido com o rap. Além de rimar desde a juventude, André vinha nos últimos anos escrevendo letras, produzindo clipes e capas de álbuns para os amigos. Chegava até a ajudar no planejamento da divulgação de alguns trabalhos. “Começou por puro prazer. Logo fui percebendo que dava pra transformar esse hobby em algo profissional”, conta. Essa versatilidade, somada à experiência no mercado publicitário, acaba se tornando, na visão de André, o grande diferencial de sua gravadora. “Trago muitas ideias de minha antiga agência. E algumas preocupações também, como cumprimento de prazos e organização de campanhas. O objetivo da White Monkey é levar profissionalismo e ideias novas ao mercado independente”, acredita.

Além de gravadora, a empresa se envolve em quaisquer questões relacionadas à carreira dos clientes. Da produção de singles à distribuição digital das canções, passando pela gravação de clipes e divulgação. “Nós nos preocupamos com todas as questões criativas. Penso no logotipo do artista, na capa do disco, no roteiro do clipe… E tem, logicamente, o trabalho de empresário também, com a venda de shows. Mas tudo isso graças a parceiros especialistas em áreas diferentes. Acabamos tendo vários ‘braços’, uma outra característica que trago do mercado publicitário”, diz. Entre esses parceiros, destacam-se a Damn Pixel (responsável pela arte gráfica dos projetos da WM), Agência Alien (redes sociais), Ogiva (videoclipes) e a Ditto Music (distribuição digital).

Outra preocupação de André e Pedro Lotto é com o dinamismo atual do mercado. Para eles, o público de hoje, especialmente o mais jovem, exige velocidade nos lançamentos. “Para a molecada, música antiga não é aquele clássico que você ouvia quando criança, mas canções lançadas há três meses (risos). Por isso nosso processo de criação é veloz. O Lotto e o Caio Paiva, que são os que mais produzem na gravadora, são muito criativos, capazes de criar beats sob medida. Não é simplesmente fazer letra depois do beat. Tudo é feito na hora, com muita qualidade. De uma certa maneira, também damos ao beatmaker seu real valor. Pra nós, ele é tão importante quanto o artista”.

Negra Li | Foto: JR Duran

Negra Li | Foto: JR Duran

Muitos projetos

Por enquanto, a cantora Negra Li é a única artista exclusiva da gravadora, já que Cyntia Luz preferiu se manter “independente”. Outros dois nomes devem assinar contrato em breve. “Já temos uma artista grande (Negra) e vamos fechar com outros dois muito promissores. Acho que é o ideal. E paralelamente, vamos produzindo muitos trabalhos pontuais. Lançamos mais de dez discos ou EPs em 2018, além de vários clipes, como o do single ‘Placo’, do Rincón Sapiência”, enumera André. Vale lembrar que o rap não é o único gênero presente no dia a dia da empresa. Artistas de funk, samba e R&B, como os jovens Davi (filho de Rodriguinho) e Gaab – que participa numa das faixas do próximo disco de Negra Li – também estão gravando nos estúdios da White Monkey.

Curiosamente, o álbum de Negra Li será uma exceção à regra dentro do mecanismo de trabalho da empresa. Num momento em que o mercado pede mais por singles isolados, sem a necessidade de discos completos, a rapper paulista acaba de gravar um projeto de inéditas. “Nosso trabalho é basicamente virtual e quase sempre focado em músicas, não em álbuns. Mas um disco ainda é necessário em dois casos: para lançar um jovem artista, fazendo com que o público conheça logo seu estilo e influências, ou para revitalizar uma carreira já conhecida, que é exatamente o caso da Negra Li”, explica André. Para o executivo, a artista merece um reconhecimento ainda maior do grande público. “A Negra é um ícone no rap nacional. E é bastante conhecida até por quem não acompanha o rap, por conta de suas muitas aparições na TV, especialmente na Globo. Mas nem todos tem noção do que ela representa em nosso meio”, dispara.

Com 11 faixas inéditas, o projeto foi lançado nas plataformas digitais e, fisicamente, apenas em vinil. Dois singles já foram apresentados aos fãs: “Malandro chora” e “Raízes”. Este último, com participação de Rael e letra de Fabio Brazza – que aliás está gravando um EP pela White Monkey. A empresa também está envolvida na venda de shows da cantora, ao lado da Olho Vivo Produções, mais um dos parceiros considerados por André fundamentais para o sucesso da WM.

Apesar dos muitos projetos em andamento, ou até por conta desse grande volume de trabalho, André Drum conta que ainda não teve tempo de fazer planos para 2019. O executivo acredita, no entanto, que a empresa crescerá juntamente com o fortalecimento do rap nacional. “Nunca houve uma expectativa tão grande neste mercado. Só tenho visto evolução nos últimos anos. No mercado digital, o rap já é fortíssimo. E tem outra coisa: a gente vive de fases de música por aqui. Teve o axé, o samba, agora o sertanejo. O rap está muito grande e busca mais espaço a cada dia. O Brasil já superou inclusive a França como segunda maior cena do rap no mundo, só atrás obviamente dos Estados Unidos. Uma hora cairá no gosto geral”, finaliza. (Por Thomaz Rafael)

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