Ruy Barata, um dos maiores nomes da cultura paraense, se vivo, estaria com 103 anos. Poeta, homem das artes e da cultura brasileira, Ruy, que morreu em 1990, é quase uma entidade no Pará: ao lado do filho, o também compositor Paulo André Barata, compôs uma vasta obra musical, homenageada no álbum “A Música de Paulo André e Ruy Barata” (capa acima). O projeto que reúne mais de 20 intérpretes chega às plataformas digitais dia 21 e ganha edição física (CD duplo) em breve, pela gravadora Biscoito Fino.
Os parceiros Ruy Barata e Paulo André Barata foram apresentados ao Brasil ainda na década de 1970 junto com Fafá de Belém, para quem compuseram o bolero “Foi Assim” e a canção rural “Pauapixuna”, ambas incluídas em trilhas de novelas e séries de sucesso da TV Globo.
Produzido por José Milton (de artistas como Miúcha, Nana Caymmi, Emílio Santiago e Raimundo Fagner, entre muitos outros), o álbum “A Música de Paulo André e Ruy Barata” alinha composições da dupla (algumas de Ruy com outros parceiros) com direção geral de Tito Barata, criador do projeto (irmão de Paulo e filho de Ruy). O próprio Paulo André foi consultor nesta homenagem à criação musical absolutamente singular de pai e filho, que perpassa os ambientes urbano e rural da Amazônia ao som de boleros, merengues, MPB, sambas e carimbós.
O elenco estelar do álbum, que tem arranjos e regências de Cristóvão Bastos, Jacinto Kahwage, Luiz Pardal e Rildo Hora, é tão plural quanto a obra de Ruy Barata, morto em 1990. Além de artistas paraenses, como Fafá de Belém, Leila Pinheiro, Vital Lima, Jane Duboc, Pinduca e Dona Onete, o tributo reúne Mônica Salmaso, Maria Rita, Zé Renato, Joyce Moreno, Áurea Martins, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho, Lia Sophia e dupla Alexandre Gois e Joaquim Pessoa, entre outros intérpretes.
Coube a Maria Rita a nova versão da clássica “Foi Assim”; Fafá de Belém surge em dois momentos: na caribenha “Porto Caribe” e em “Tronco Submerso”. Pinduca e Dona Onete vão de carimbó em “Este Rio é Minha Rua”; “Mesa de Bar” aparece na voz de Leila Pinheiro e “Pauapixuna” na de Mônica Salmaso. “Moldura Antiga” é uma bossa que ganhou ainda mais suingue na versão de Joyce Moreno e o Quarteto do Rio. Destaques ainda para “Meu Pajé (Samba Pro Sting)”, com Zeca Pagodinho; “Litania”, com o Padre Fabio de Mello, e “Indauê – Tupã”, na voz do maranhense Zeca Baleiro.
A melhor tradução da obra genial do multifacetado poeta Ruy Barata talvez esteja em um dos versos de “Porto Caribe” (em parceria com Paulo André): “Eu sou de um país que se chama Pará”. Para Ruy Barata, “a chamada letra regional é sempre uma letra política. O opressor sempre impõe a sua linguagem. O regional foge a essa imposição”. Afinal, canta a tua aldeia e serás universal.