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Jorge Aragão faz balanço dos 50 anos de carreira

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São 70 anos de vida e 50 de carreira – contando o tempo em que tocou em bandas de baile e casas noturnas. Conhecido como “poeta do samba”, Jorge Aragão ri do epíteto. “Não tenho tanto estudo, mas acho que consigo às vezes encontrar as palavras certas, as rimas menos comuns. E também tenho meus parceiros, que sempre ajudam na criação e lapidação dos versos – gente como Newton Barros, Jotabê e Flavio Cardoso. Pra falar a verdade, acho até que tenho mais facilidade em fazer melodia, pela minha história musical”, revela Jorge, autor de cerca de 300 músicas, gravadas por ele e por nomes conhecidos no mundo do samba, como Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho.

A história musical do carioca de descendência amazonense não está ligada desde o início ao gênero que mais representa o Rio. “Minha musicalidade tem outras influências. Desde cedo gostava de ouvir as big bands e minha formação de músico de banda de baile me colocou em contato com ritmos diversos. Sempre gostei da black music americana, rock e outros gêneros”, afirma Jorge, que ainda hoje é eclético em se tratando de música. “As pessoas acham que eu fico o tempo todo falando de samba, ouvindo samba, mas não é bem assim”, reforça. Na sua playlist tem desde Candeia e Dona Ivone Lara a hits da Motown, charm e MPB, até sucessos das músicas francesa e italiana.

Idolatrado por boa parte dos novos representantes do samba, Jorge Aragão acredita que o gênero precisa se reciclar em termos artísticos e de repertório. “Outro dia, no velório da Beth Carvalho, a gente estava falando disso. Faltam peças de reposição no samba. Quem vai substituir uma figura como a Beth? O pessoal mais jovem está aí tentando desenvolver seu trabalho, mas hoje sinto que a produção musical está menos natural que em outras épocas. Tem muito marketing, muito like, muita rima simples. De qualquer maneira, é esse pessoal novo que terá que levar o nosso ‘velho’ samba adiante. Então temos que apostar nessa rapaziada, como Mosquito, Renato da Rocinha, Tiee, Leandro Fregonesi e Inacio Rios”, afirma.
Apesar de considerar que o gênero e seus representantes carecem de maior renovação, Aragão faz questão de não separar a “Velha Guarda” de sambistas mais modernos – que fundem o gênero com outros ritmos. “Todos nós fazemos samba. Quanto mais você segmenta, menos fortalece o gênero como um todo. Eu não sou ‘sambista de raiz’, como alguns rotulam. Sou sambista e ponto”, enfatiza.

Criador da música Globeleza, tema das transmissões do Carnaval na Rede Globo, Jorge Aragão durante muitos anos foi jurado dos desfiles no Rio de Janeiro, nas transmissões da emissora. Indagado sobre o atual momento das escolas cariocas e dos festejos de carnaval, ele afirma. “Acho que até alguns atrás, os sambas-enredo eram mais ilustrativos e até educativos. O povo, desde a pessoa mais simples à mais culta, aprendia com o que era explorado nos enredos. Hoje, os temas estão muito rebuscados e muitas vezes se fala de questões que não tem a ver com a história ou cultura brasileiras. Por outro lado, acho muito interessante o crescimento do carnaval em São Paulo e principalmente a volta dos blocos. Os foliões estão se reinventando, as festas nas grandes e pequenas cidades do país estão cada vez mais profissionalizadas em estrutura e atrações. Isso sim deve ser valorizado”, opina.

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TURNÊ ESPECIAL
Para comemorar sete décadas de vida, completados dia 1º de março último, Aragão preparou um show especial, com embalagem sofisticada, intitulado Jorge 70. Serão 70 apresentações em várias cidades do país, com repertório juntando o melhor das composições do artista, gravadas por ele e outros nomes do samba – muitas delas com arranjos novos, pra deixar o show com formato de festa. Faixas como “Coisinha do Pai”, “Vou Festejar”, “Cabelo Pixaim”, “Moleque Atrevido”, “Eu e Você Sempre”, “Feitio de Paixão”, “Do Fundo do Nosso Quintal”, “Coisa de Pele”, “Enredo do Meu Samba” e “Malandro”. A estreia aconteceu no dia 28 de junho no Vivo Rio. “Já temos apresentações agendadas para quase todas as capitais do país”, diz ele, que em paralelo manterá outros formatos de shows. No dia 27 de junho, por exemplo, Jorge apresentou-se no Allianz Parque, em São Paulo, ao lado do grupo Fundo de Quintal, do qual, aliás, ele é um dos fundadores.

Com 20 stents nas artérias, por conta de problemas coronarianos, Aragão diz agradecer todos os dias ao “papai do céu” e à evolução da medicina por permiti-lo manter-se na ativa. Com cerca de 30 canções inéditas na gaveta e planos de voltar a gravar um álbum ainda em 2019, após mais de 12 anos afastado dos estúdios, o artista, sorrindo, já projeta sua próxima tour especial. “Imagine eu viajando pelo Brasil com o show ‘Jorge 80’? Espero ter saúde e pique para comemorar meus 80 anos no palco, junto do público que gosta de um bom samba”, diz ele.

Relembre Jorge Aragão cantando o sucesso “Minta Pra Mim”:  

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