Marisa Monte havia decidido, no começo de 2020, era entrar em estúdio em maio daquele ano, para gravar seu novo álbum, em parceria com a Sony Music, produto que chega agora às plataformas com o título de “Portas” (capa acima). À época, ela já tinha um repertório pronto, produzido ao longo dos últimos anos com diversos parceiros, esperando a hora certa de gravar. “Mas, em março, as portas se fecharam e ficou impossível seguir com os planos. Como todo mundo, entramos numa inevitável pausa de mil compassos. Passaram-se alguns meses até que a gente pudesse compreender melhor a nova realidade cheia de protocolos sanitários, testes e máscaras”, lembra ela. “Durante esse período, o repertorio cresceu. Fiz ‘Vagalumes’, com Arnaldo Antunes e ‘Sal’ e ‘Você Não Liga’, com o Marcelo Camelo, que também me trouxe uma música dele, ‘Espaçonaves’, que já estava pronta”.
Em novembro, com uma equipe reduzida, a artista entrou em estúdio, no Rio de Janeiro, para gravar as primeiras oito bases. “Minha ideia inicial que era viajar (para os EUA) e formar uma segunda banda, em Nova York, ficou impossível. Achamos que valia a pena experimentar uma gravação remota. Com co-produção do Arto Lindsay, que trouxe a sua banda, arriscamos gravar duas músicas, ‘Calma’ e ‘Portas’ — eles num estúdio na rua 37 e nós no Rio, tudo via zoom. Pra nossa surpresa, deu muito certo, o que nos abriu um novo universo de possibilidades e nos deu confiança de seguir com gravações remotas em outras cidades e com outras formações também”, afirma.
Segundo ela, as equipes seguiram alternando gravações presenciais no Rio (com mais bases, complementos e os arranjos do maestro Arthur Verocai e do trombonista Antonio Neves) e com gravações remotas em Lisboa (arranjos do Marcelo Camelo) e Los Angeles (onde a cantora Flor, recente parceira da artista, colocou voz). “Gravamos ainda, remotamente, ‘Vento Sardo’, em Madri e Barcelona com Jorge Drexler, que apesar de estar pronta e fazer parte do corpo desse álbum, decidimos lançar a posteriori, como um single, quando pudermos nos encontrar ao vivo. Mixamos com engenheiros no Rio, Los Angeles e Nova York acompanhando daqui e depois masterizamos em Nova York”, detalha Marisa. Ao todo, o álbum, registrado em áudio e vídeo, conta com 16 canções.
Quanto à promoção de “Portas” em nova turnê de shows (baseada no seu repertório), a cantora afirma: “Ainda está difícil fazer planos para a volta aos palcos. Dependemos da vacina e da maioria da população imunizada. Talvez no final do ano, se tudo der certo em 2022, a gente vai ter a alegria de se encontrar de novo. Comecei minha vida na música com 19 anos e nunca fiquei tanto tempo sem cantar ao vivo e sem encontrar o meu público. Estou sentindo muita falta, não vejo a hora de poder cantar junto”, afirma. (fotos de Leo Aversa).