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20 anos de Falamansa

O cantor e compositor Tato já frequentava a vila de Itaúnas, no norte do Espírito Santo, antes mesmo do surgimento de sua banda, a Falamansa. Na verdade, pode-se até dizer que as muitas viagens do artista ao simpático vilarejo capixaba, que desde os anos 80 é muito identificado com o forró, foram fundamentais para o nascimento do grupo. Localizada em Conceição da Barra – pequeno município com pouco mais de 30 mil habitantes – Itaúnas inspirou não apenas o artista paulista, como também ajudou a “exportar” o forró pé-de-serra à capital paulista e a outras cidades onde moravam milhares de jovens universitários que conheceram o gênero justamente em visitas ao vilarejo. Foi ainda palco dos primeiros shows de muitas bandas que contribuiriam logo depois para o movimento do forró universitário.

Não faltaram razões, portanto, para a principal banda do gênero escolher voltar ao local para a gravação de seu DVD comemorativo de 20 anos de carreira. O registro aconteceu em julho do ano passado, durante a 17ª edição do Festival Nacional de Forró Itaúnas (Fenfit). A ideia de Tato e seus parceiros Alemão, Dezinho e Valdir era unir a história do local com a energia do festival. “Durante a semana do evento, milhares de pessoas respiram forró na cidade. É um público que adora dançar e se divertir com a música, sem arrumar confusão. Melhor ainda foi aproveitar todo esse clima justamente no local que foi o berço deste movimento do forró no final dos anos 90”, resume Tato.

O vocalista ressalta ainda que, embora o aniversário de duas décadas da banda tenha motivado o DVD, o projeto tem outros simbolismos. “Contamos por meio da música a história da banda, mas também reverenciamos quem nos inspirou lá atrás e destacamos a alegria de termos influenciado tanta gente. Prestamos homenagens a grandes nomes do forró e recebemos no palco grandes amigos. Entre eles, artistas que nos ajudaram a impulsionar o gênero no final dos anos 90, novos ídolos do movimento e também os veteranos. É uma espécie de linha do tempo, que pontua todo o projeto. Esses convidados tão especiais para a Falamansa não foram escolhidos pra dar mais ibope, mas sim pra contar uma história. Pra termos o passado e o presente ali no palco”, conta. A bonita concepção do DVD se estende aos bastidores, retratados num making off sensível e repleto de depoimentos de “testemunhas” da explosão do forró universitário. São músicos e amigos que conheceram a banda no início de tudo.

O novo trabalho chegou às lojas físicas e digitais no início de abril. Foi lançado também em CD e tem no repertório três composições inéditas: “Joia Rara”, “Paz” e “O Dinheiro Não Compra O Amor”, todas assinadas por Tato, sendo a última delas em parceria com Valdir, Alemão e o músico Renato Guizelini. O repertório traz também alguns dos maiores hits da banda, como “Rindo à Toa” e Xote Dos Milagres”, além de releituras de sucessos de outros nomes importantes do forró.

Destaque, por exemplo, para um pot-pourri de “Colo de Menina”, “Nosso Xote” e “Esperando na Janela”, hits do Rastapé, Bicho de Pé e Targino Gondim. “Sempre tocamos essa combinação nos shows, mas nunca havíamos gravado. São canções que representam o êxito de artistas contemporâneos à Falamansa, o que reforça esta ideia de brindar a história do forró”, explica Tato. Jorge Filho (Rastapé), Janayna Pereira (ex-vocalista do Bicho de Pé) e o próprio Targino se juntaram a Tato nesta gravação, num dos momentos mais marcantes do DVD.

Outras duas regravações (inéditas na voz de Tato) do projeto são as clássicas “Lamento Sertanejo” e “Seja Como Flor”, de Dominguinhos (em parceria com Gilberto Gil e Gonzagão, respectivamente). A primeira conta com a participação de integrantes dos Trios Nordestino, Virgulino e Chamego, grupos que se apresentavam com frequência na noite paulistana à época em que o forró universitário começava a ganhar força. Já a outra teve como convidado o cantor e sanfoneiro sergipano Mestrinho, uma das maiores revelações do forró nos últimos anos. “A presença dele no DVD não deixa de ilustrar a importância da Falamansa para o movimento. É emocionante saber que inspiramos tantos novos sanfoneiros nos últimos anos. Mestrinho é uma luz musical e um cara incrível”, vibra Tato.

AMIGOS E PARCEIROS

Este bom relacionamento de Tato com os colegas de forró não gera colaborações apenas no palco. O cantor está produzindo o novo álbum do Rastapé. E também assina duas faixas do novo CD do Bicho de Pé, ambas em parceria com a nova vocalista da banda, Carla Casarim. “Sinto uma união cada vez maior em nosso segmento. É sensacional dividir o estúdio com todos eles”. Tato ainda encontra tempo para compor com Zeider (Planta & Raiz), Marcelo Mira e Ivo Mozart, entre outros parceiros. Destes encontros, nasceu um dos hits recentes da música sertaneja: “Romântico Anônimo”, gravado por Marcos & Belutti. “Compomos músicas românticas, sem apelação ou sentimentos ruins. E acabamos usando, no melhor sentido da palavra, a popularidade de outros artistas nesta busca em levar coisas boas ao público por meio da música”, diz. A próxima aposta de Tato e cia é “Menina Maluquinha”, faixa que está no novo DVD de Jorge & Mateus (Terra sem CEP).

Perguntado se todos esses trabalhos paralelos causam algum tipo de desconforto nos parceiros de Falamansa, Tato sorri e garante que a relação entre os quatro músicos é a melhor possível. “Somos uma família. Com respeito e admiração um pelo outro. E profissionalismo, já que esse relacionamento também se baseia na conquista de objetivos. O mais importante é que todos olham para o mesmo lado”, diz. Com a agenda frequentemente cheia, os quatro amigos viajaram pelo país nos últimos dois anos com o show baseado no álbum “Lá Da Alma”. Porém, em abril, a banda realizou em São Paulo, a estreia da nova turnê com o repertório de “20 Anos Ao vivo em Itaúnas”. Turnê que já tem um pequeno intervalo programado para junho. “Não tem jeito. Quando chega São João, retomamos os shows voltados às celebrações juninas e julinas. Nestas apresentações, acrescentamos inúmeras homenagens aos grandes compositores e intérpretes do forró, baião e frevo”, conta o vocalista.

Logicamente, Tato não se refere a ele próprio ao falar em “grandes compositores”, mas os números do Ecad, anualmente, não deixam qualquer dúvida. Em 2017, por exemplo, o cantor e compositor só ficou atrás de Luiz Gonzaga entre os autores com maior rendimento nas festas juninas. Em 2016, havia ficado na terceira posição. Uma proeza que emociona o artista. “É uma honraria, especialmente pra quem busca o que eu busco: escrever músicas para animar e tocar o público. É muito mais gratificante essa emoção do que o lance financeiro. A emoção, por exemplo, de ver seu nome nessas listas ao lado de Luiz Gonzaga. Na realidade, sempre atrás dele. Não quero nunca passá-lo. E fico muito satisfeito que ícones como Gonzagão, Lamartine Babo e Dominguinhos, entre tantos outros, continuem sendo lembrados pelas novas gerações”.

E se após as festas juninas o grupo tem, normalmente, um período de descanso, em 2018 haverá mais trabalho pela frente. Segundo Tato, estão sendo fechados alguns shows na Europa entre agosto e setembro. “Será um ano de muito trabalho. Ou seja, um ano muito bom. Digo sempre que não podemos reclamar de nada. Uma banda que escolhe fazer forró e tocar zabumba e sanfona, falando sempre de coisas positivas, sem se deixar seduzir por uma ou outra tendência de mercado, sabe que não estará estourada o tempo todo. Mas ainda assim, a gente está sempre na estrada, isso nunca mudou. Porém, dá pra sentir que é uma fase diferente. Ainda melhor. Um momento especial em nossa carreira e também excelente para o forró. Temos que aproveitar!”.

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