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Aloysio Reis fala de direitos autorais e outros temas

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Com passagens por importantes gravadoras no Brasil e exterior, Aloysio Reis desde 2005 comanda a unidade local da Sony/ATV, editora que administra a obra de autores como Roberto Carlos, Marisa Monte, Zé Ramalho, Erasmo Carlos, Ana Carolina e Renato Russo. Comunicativo, bem humorado e sempre solícito, ele é unanimidade entre compositores, artistas e profissionais do mercado. Jornalista por formação, Aloysio ingressou por acaso na indústria da música, ao começar a escrever canções. Ele acumula cerca de 140 músicas gravadas, compostas com diferentes parceiros. Algumas são bastante conhecidas, casos de “Por Ela” e “Mudança” – gravadas no início dos anos 90 por Roberto Carlos –, e “Vou de Taxi”, hit da apresentadora Angélica. Na entrevista a seguir, Aloysio Reis fala do seu trabalho à frente da editora do grupo Sony, da arrecadação de direitos, do seu lado letrista, do recente convite para integrar o conselho da LARAS, academia que organiza o Latin GRAMMY, e de sua estreia no mercado editorial, com o lançamento do livro de contos Rio Vermelho e outros relatos improváveis. Confira:

Show Business + Sucesso! – Fale sobre sua gestão à frente da Sony /ATV. O que você conseguiu implementar nesses 14 anos dirigindo a editora?
Aloysio Reis – A companhia cresceu de forma exponencial nos últimos anos, principalmente porque tornou-se mais próxima de seus autores, conquistando um altíssimo grau de fidelidade e prestação de serviços aos compositores e editores administrados. Essa relação de confiança acabou atraindo outros criadores de altíssimo nível para dentro da nossa casa. Além das jóias que já estavam aqui, fizemos dezenas de contratações e co-edições durante esses quase 14  anos e podemos dizer que temos um “roster” autenticamente estelar. A aquisição da EMI, ocorrida no início da década, trouxe a liderança para a Sony/ATV no mundo inteiro, mas manter essa liderança exige inovação, desenvolvimento tecnológico de sistemas e muita energia no trabalho de todos os dias.

Você trabalha atualmente sob menos pressão, em comparação ao período em que esteve à frente de gravadoras, onde a disputa por market share e por cast, assim como a visibilidade perante a mídia, são bem mais acentuadas, aumentando o nível de cobrança?
Creio que este é um mito que caiu por terra nos últimos tempos. O mercado editorial de música perdeu o conforto da vida cartorial do século XX e tornou-se extremamente competitivo. O mundo digital aumentou nossa responsabilidade com a necessidade de promover e fazer marketing nas redes sociais, além de obrigar-nos a uma sofisticação muito maior em termos de informação ao compositor.

Acredita que hoje em dia editora e gravadora de um mesmo grupo, mais do que nunca, precisam trabalhar em parceria para potencializar resultados? Como isso se dá entre Sony/ATV e Sony Music Brasil?
Sem dúvida. Somos amigos, parceiros em negócios e uma grande parte dos nossos contratados são também contratados da Sony Music, que tem uma equipe de grandes profissionais. Minha formação na indústria foi no universo das gravadoras e por esta razão posso assegurar que o time da nossa empresa-irmã é de primeira classe.

Com a predominância dos serviços de streaming de áudio e vídeo (modalidade que, me parece, é mais fácil de ser fiscalizada, em comparação a shows ao vivo, música ambiente etc.), o compositor está sendo melhor remunerado?
A vida digital é mais fácil para quem está tecnologicamente preparado para enfrentá-la, mas pode ser muito mais difícil para quem parou no tempo. A remuneração dos compositores está longe de ser comparada às receitas da época de ouro do CD, com suas vendas milionárias. As perspectivas para o futuro, no entanto, são muito positivas, mas existem muitos desafios a serem enfrentados. Mais que nunca, é preciso deixar claro que a composição musical tem dono e que esse dono é o autor. Nenhum serviço ou plataforma pode se sobrepor ao criador.

Você faz parte da atual diretoria da UBC que, como é sabido, trouxe um dinamismo ao dia a dia da associação, fez acordos importantes e elevou bastante a arrecadação para os associados. O que mais teria a dizer a respeito?
O processo de modernização da UBC é um dos mais importantes cases de sucesso ocorridos nos últimos anos no Brasil. É um casamento perfeito de tecnologia com a comunicação contemporânea. A equipe comandada por Marcelo Castello Branco é super eficiente no trato com o compositor brasileiro e nas ações em defesa do direito autoral junto ao Poder Público. Além disso, representa muito bem o Brasil no Board da CISAC (Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores).

Considerando a importância da música produzida no Brasil, e a fama que ela tem no mercado externo, você não acha que as receitas no campo autoral vindas do exterior são irrelevantes? Os serviços de streaming tem contribuído para o aumento desta arrecadação, uma vez que a distribuição digital é acessível a todos os consumidores em nível mundial?
As receitas podem ser melhoradas através de controles mais eficientes, mas seria cegueira não reconhecer que o idioma continua sendo uma barreira para aumentar a difusão da nossa música no exterior. Às vezes sinto que as pessoas confundem o respeito e o público seleto que a MPB conseguiu no exterior com consumo massivo, que acaba sendo o grande gerador de recursos na indústria cultural. Não existe consumo massivo de música brasileira no exterior que se compare ao consumo de música anglo-saxônica. Infelizmente, essa é a principal razão do ingresso modesto de recursos de origem externa.

A propósito, acha que há espaço para crescimento ainda maior na arrecadação de direitos autorais no Brasil, considerando o ambiente digital?
Claro que sim. O Brasil já é um dos maiores mercados do mundo em termos de acesso à música digital. Nossa competitividade cai muito quando se fala no preço que é preciso manter para massificar o consumo através das plataformas adimplentes. Posso falar sem medo que se a renda média do brasileiro crescer e a nossa banda larga melhorar, chegaremos ao Top 5 de vendas de música no mundo.

Além do digital, há outras rubricas que na sua opinião tem possibilidades de crescimento?
A execução pública sem dúvida ainda tem muito terreno para conquistar. Se todos os usuários cumprissem com suas obrigações com o direito autoral, essa rubrica iria crescer barbaramente. A questão quase sempre esbarra em dezenas de Projetos de Lei que circulam no Congresso Nacional ameaçando os ingressos dos compositores. Grande parte das emissoras de rádio e TV são controladas por políticos e essa é a grande ameaça.

Recentemente você foi nomeado para o Conselho de Diretores da LARAS, entidade que organiza o Latin GRAMMY. Como se deu o convite?
Fiquei muito feliz com a confiança depositada em mim e estou orgulhoso de fazer parte do Comitê Executivo do Latin GRAMMY. Essa instituição vale muito para a música latina. Estou ainda vivendo o processo de assimilação do funcionamento da LARAS e espero poder contribuir muito com o desenvolvimento da organização, aproveitando minha experiência profissional nos três mercados latinos onde trabalhei – Colômbia, México e Brasil.

Você tem quantas músicas gravadas? Pode relacionar as mais conhecidas? Tem muita coisa na gaveta?
Tenho cerca de 140 músicas gravadas com diferentes parceiros e intérpretes. Em muitas delas, trabalhei com meu irmão, Byafra, mas também com Délcio Luiz, Torcuato Mariano, Marcos Sabino e Michael Sullivan. É difícil destacar as que foram bem sucedidas, porque, como sou letrista, fiz composições em diversos gêneros. As duas gravadas pelo Rei Roberto Carlos – “Por Ela” (1990) e “Mudança” (1991) – naturalmente são destaques. Mas tem a versão de “Vou de Taxi” (1988), gravada pela Angélica, tem “A Carta”, gravada na linda voz de Péricles, do Exaltasamba (2003), que ficou muito tempo liderando as paradas. Tive também o prazer de letrar alguns sucessos do Belo e da Xuxa e de fazer várias adaptações ao português para gravações de Julio Iglesias, Gloria Estefan, Chayanne e José Luis Perales. Ainda tem muita coisa na gaveta esperando uma voz e um arranjo.

Recentemente você lançou seu primeiro livro, “Rio Vermelho e outros relatos improváveis”. Fale sobre a obra e sobre este seu lado escritor.
Tenho que confessar que esse era realmente meu plano “A”. Durante toda minha adolescência e na minha formação universitária meu sonho era ser jornalista para depois tornar-me escritor de ficção. No entanto, a vida não aceita roteiros pré-estabelecidos, e o jornalismo acabou me levando para a música. Só tomei coragem de publicar o “Rio Vermelho e Outros Relatos Improváveis” (cinco contos de ficção) porque o incentivo da minha esposa e de amigos, como o grande compositor Paulo Sérgio Valle, foram mais fortes do que meus medos. Para mim, a literatura é tão sagrada que o dia do lançamento, na Livraria Argumento, no Rio, foi um dos mais tensos da minha vida, mas também um dos mais felizes. Nunca achei que um dia iria autografar para Erasmo Carlos, Antônio Cícero, Fausto Nilo, Zé Ramalho, Celso Fonseca, Abel Silva e mais um monte de artistas brilhantes que estavam ali para prestigiar minha estreia na literatura. A caneta tremeu de emoção. (Além do Rio, Aloysio já realizou noites de autógrafos em Niterói e São Paulo).

"Rio Vermelho e Outros Relatos Improváveis", de Aloysio Reis. Editora Autografia, 2018

A propósito, planeja lançar outras obras? Já está trabalhando nisso?
No final de 2019 espero concluir e lançar meu primeiro romance. Já tenho uns oito capítulos terminados.

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