Logo após o golpe militar de 1964, prestes a lançar seu primeiro compacto, o grupo Quarteto do CPC, formado em Niterói, precisou mudar de nome. Nascia ali o MPB4 e, com ele, a sigla MPB, até então desconhecida e que nos anos seguintes passaria a designar um dos mais abrangentes gêneros musicais brasileiros.
Para comemorar os 60 anos de carreira, o grupo, hoje formado por
Aquiles Reis, Dalmo Medeiros, Miltinho e Paulo Malaguti Pauleira, está prestes a lançar um álbum comemorativo, com várias participações especiais — Chico Buarque, Dori Caymmi, Edu Lobo, Toquinho, Ivan Lins, Kleiton & Kledir e João Bosco, entre outros.
A primeira faixa do projeto chega às plataformas nesta sexta-feira, 17. Trata-se de “Angélica”, dedicada ao Quarteto em Cy, que traz como convidado Chico Buarque de Hollanda. O single foi gravado originalmente em 1978, pelo grupo formado, à época, por Cynara, Cyva, Dorinha e Sônia. Além do mais, “Angélica” é a única parceria de Chico Buarque com um integrante do MPB4. “Me sinto muito honrado com a presença do Chico no nosso álbum, ainda mais porque ele pediu para gravar nossa música”, exalta Miltinho, que entregou a melodia para Chico botar letra nos idos anos 1970.
Aquiles, Miltinho, Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti Pauleira encontraram Chico no estúdio no dia da gravação. De cara, o cantor/compositor percebeu que faltava um trecho da letra que ele havia feito inspirado na luta da estilista de moda Zuzu Angel (1921-1976) para encontrar os assassinos do filho Stuart Angel.
Os integrantes do MPB4 foram checar, e Chico estava certo. “Não fizemos o dever de casa direito”, brincou Aquiles. Incluído o trecho esquecido – “Quem é essa mulher que canta como dobra um sino?” –, foi só começar a gravação em clima de velhos amigos cheios de histórias para recordar.
Chico lembra que foi natural a identificação entre ele e o grupo, cujos integrantes militavam em movimentos estudantis. A incipiente obra de Chico já tinha cunho político-social, e não demorou para a brilhante “Roda Viva” uni-los num festival.
Aliás, a própria canção “Angélica” é uma canção política. Depois de tentar, durante cinco anos, encontrar os assassinos do filho, ela mesma foi vítima da ditadura. Inclusive, Zuzu tinha revelado para Chico que estava sendo ameaçada e que, caso morresse, os assassinos seriam aqueles que haviam tirado a vida de Stuart Angel.
Como dizem os integrantes do grupo, “Angélica” é uma música carregada de história e de muitas histórias. Depois que o Quarteto em Cy lançou a canção, o MPB4 resolveu gravá-la no LP “Bons Tempos, Hein?”, de 1979. Chico só gravaria em 1981, no álbum “Almanaque”.