O presidente da União Brasileira de Compositores (UBC), Paulo Sergio Valle, é bem mais que um compositor consagrado, autor — às vezes em parceria — de 900 músicas, muitas delas clássicos, como “Evidências”, “Samba de Verão”, “A Lua Que Eu Te Dei”, “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” e “Essa Tal Liberdade”. Paulo Sergio Valle é também conhecido pelo trabalho de escritor. “A literatura me seduz muito, tanto quanto a música. O objetivo é muito diferente, os tempos são diferentes, a mecânica. Mas o trabalho igualmente compensador. Para mim, escrever um livro é tão importante quanto fazer música”, conclui.
Nesta segunda-feira, 26, acontece a noite de autógrafos de sua nova obra literária, “Carrossel”, a partir das 19 horas, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. Depois de dois anos reunindo e lapidando histórias, ele lança o livro, uma coletânea de contos — com alguns poemas — que dão uma boa ideia das inquietudes de um artista plural. O conto-título é, como ele diz, uma metáfora da vida e da passagem do tempo. “Era para ser um romance, é um conto bem grande. Depois vi que, se me estendesse muito, ia prejudicar a história. Então, resolvi acrescentar outros contos, todos eles livremente inspirados em histórias reais, de gente que conheço. Mudei os nomes e acrescentei um toque de ficção, como sempre faço”, diz o compositor e escritor, que em agosto completou 82 anos.
De acordo com Paulo Sergio, o longo processo de gestão da obra (capa acima), publicada pela Litteris Editora, lhe permitiu chegar à forma exata em que queria contar essas histórias. “O único capítulo que tem poesia, e que é pequeno, diz respeito a um cara que eu conheci no metrô do Rio, indo para o Centro. Ele ia me contando histórias da vida dele, de lugares em que esteve. Era aposentado e estava fazendo aquele trajeto para se lembrar do tempo em que ia todos os dias trabalhar no Centro. Transformei em poesia as histórias dele: seis ou oito”, descreve o autor, um especialista na arte de usar passagens do cotidiano como gancho para suas histórias recheadas de lirismo e bom humor — e que, entre seus livros publicados, tem dois romances.
Para marcar a diferença entre o Paulo Sergio compositor e o escritor, ele só faz referência à música em um dos contos. “Andança” é a história de uma moça apaixonada pela célebre canção de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós: “Talvez seja mesmo o único ponto de contato com a música. Até porque o processo de escrita é completamente diferente. Enquanto uma canção você precisa entregar em, no máximo, uns dez dias, porque o intérprete está esperando por ela, o livro tem o seu próprio tempo. Este eu acho que foi o meu recorde, dois anos para concluí-lo. Você vai lapidando, tira uma coisa, acrescenta outra, uma construção muito gostosa”.