Em tempos de plataformas e aplicativos digitais, estudos da indústria fonográfica mostram que o formato vinil não apenas sobrevive no Brasil, como vem apresentando crescimento. Só em 2023, este segmento cresceu 136% em relação ao ano anterior, de acordo com a Pró-Música (associação de gravadoras), faturando R$ 11 milhões.
Uma das companhias que vem investindo em lançamentos no formato vinil é a Universal Music, que acaba de colocar no mercado uma edição “azul” do antológico álbum “Gilberto Gil”, de 1969. Também famoso pelo apelido “Cérebro Eletrônico”, o terceiro LP do cantor e compositor baiano foi gravado com urgência — a urgência necessária em 1969, quando os artistas eram censurados.
“Este trabalho reflete, na velocidade da fuga, sobre a modernidade e o futuro, é um álbum bem rock e bem Rogério Duprat (que assina a direção musical). Seu repertório, porém, está ancorado em referências de afeto e humanidade em duas canções imensas: o clássico “Aquele Abraço”, um dos maiores sucessos do país já em 1969, e “Cérebro Eletrônico” (“O cérebro eletrônico faz tudo / Faz quase tudo / Faz quase tudo / Mas ele é mudo / O cérebro eletrônico comanda / Manda e desmanda / Ele é quem manda…”), atual como nunca, 55 anos depois”, diz o press release.
Produzido por Manoel Barenbein, com arranjos de Rogério Duprat e Chiquinho de Moraes, o disco foi gravado em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, entre abril e maio de 1969. Gilberto Gil estava em prisão domiciliar e proibido de dar shows, depois de ter passado dois meses encarcerado no Rio — a semana inicial, em solitária.
Três das músicas foram compostas no quartel de Deodoro (zona oeste do Rio), segundo Gil, “sob enfoque ou delírio científico-esotérico”, com o violão emprestado por um dos guardas: “Cérebro Eletrônico” (regravada por Marisa Monte em 1996), a impressionante “Futurível” e a delicada “Vitrines”. De malas prontas para o exílio na Inglaterra, Gil evoca um passado de passeios motorizados em família na Bahia, deixando recados para pai e mãe em “Volks-Volkswagen Blues”. Na confluência Mississipi-São Francisco da memória, também refaz em blues-rock o baião “17 Légua e Meia”, de Humberto Teixeira.
A última canção a entrar no disco foi “Aquele Abraço”, um samba inspirado sob o impacto de sair da prisão, numa Quarta-Feira de Cinzas, e passar por uma cidade ainda em trajes carnavalescos: a vida no Rio continuava normal, continua linda. Completam o repertório as faixas “2001” e “Objeto Não Identificado”.