Passadas três décadas do lançamento do Manifesto “Caranguejos com Cérebro”, escrito pelo músico Fred Zero Quatro em 1992, o Sesc Bom Retiro, na capital paulista, propõe uma série de apresentações, bate-papos e exibição de filmes referenciando o Manguebeat, movimento considerado um marco na Música Popular Brasileira. Entre 1º e 30 de julho, o projeto contempla em sua curadoria artistas que fazem parte dos primórdios do movimento e que surgiram a partir dele, lançando um olhar para suas reverberações e influências na cena pernambucana atual.
“O projeto celebra o legado cultural do Manguebeat. Traz a reflexão sobre as transformações no campo da pesquisa e fusão de sonoridades, na relação e valorização dos ritmos de matriz na cultura popular e a na incorporação e ampliação de novos recursos tecnológicos, enquanto potências e caminhos também para as criações musicais contemporâneas”, contam Ana Emília Ferreira e Odair Freire, integrantes da equipe de programação do Sesc Bom Retiro que estão à frente desta curadoria.
“Manguebeat 30 e +” também pretende ampliar o debate sobre o contexto histórico e as temáticas presentes no movimento, que se destaca pela combinação original de diversos gêneros musicais, unindo ritmos regionais, como o maracatu, a rock, hip hop, funk e música eletrônica. A perspectiva de gênero é incorporada, visibilizando a participação de artistas mulheres naquele momento. A expressão das demandas sociais urgentes das periferias também é componente central dessa produção, que denunciava a fome e as mazelas da população pobre das cidades de Recife e Olinda.
Partindo da celebração da trajetória temporal de um conjunto de artistas surgidos no movimento e ampliando o debate sobre a música produzida hoje à luz de tais referências, a curadoria incorpora alguns nomes mais jovens e extrapola para o cenário da música pernambucana e para o que surgiu posteriormente, bebendo direta e indiretamente da cena mangue, e como foram feitas conexões entre essas sonoridades, neste sentido seguem as apresentações de Mombojó, com participação de Isaar; Eddie com participação de Karina Buhr; Juliano Holanda com participação de Rogéria Dera, Lirinha e Chinaina.
Estarão presentes nesta celebração artistas como Mundo Livre S/A, Jorge Du Peixe e Cannibal, cuja sonoridade remete diretamente ao som que ficou famoso na voz e nas batidas de Chico Science e do grupo Nação Zumbi. Essas apresentações revisitam as músicas daquele momento e apresentam também o trabalho mais atual desses grupos.
Reafirmando a importância do movimento para além da música, o projeto trará exibições de filmes e documentários que tratam tanto da estética manguebeat quanto de sua sonoridade, dentre eles “Árido Movie” (Lírio Ferreira), “O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas” (Paulo Caldas e Marcelo Luna) e o documentário “Manguebit” (Jura Capela).
Integra a programação o bate-papo “Manguebeat e a cena musical pernambucana – 30 Anos”, com Karina Buhr, Jorge du Peixe, Alessandra Leão e Chinaina, que terá a mediação de Lorena Calábria e discutirá aspectos históricos e artísticos do movimento e ainda novas abordagens à luz de debates mais recentes, tais como a presença e representatividade das mulheres também enquanto artistas criadoras do movimento. O encontro antecede a exibição do documentário Manguebit.