Fundada em 2010, num momento em que a distribuição digital de música no Brasil ainda engatinhava, a ONErpm logo se transformou em sinônimo deste tipo de serviço entre artistas e selos independentes. Hoje, não só lidera o mercado no Brasil, como está presente, com escritórios e equipes próprias, em vários países. Um dos responsáveis por tudo isso, o norte-americano Emmanuel Zunz, já foi chamado de maluco quando decidiu investir (muito mais tempo que dinheiro) na sua ideia revolucionária de criar uma plataforma de distribuição digital de música. Zunz, que ingressou no mercado apresentando-se como violinista clássico, logo abandonou a carreira para fazer mestrado em Economia, Finanças e Mercados Emergentes. Trabalhou em grandes empresas, mas em 2006 retornou à indústria musical, fundando o selo Verge Records.
O embrião da ONErpm foi plantado em 2007, mas levou três anos para que a empresa começasse a operar. “Naquela época, a venda de música digital nos EUA, Europa e alguns outros mercados começava a crescer. A única loja que existia era o iTunes. O catálogo do nosso selo contava com vários artistas brasileiros, sobretudo da periferia do Rio de Janeiro, que eu garimpei em viagens ao Brasil. Pensei em criar uma ferramenta para lançar digitalmente esses produtos nos Estados Unidos”, conta Emmanuel. “Só que a gente não conseguia viabilizar a ideia, não achava a tecnologia certa para que os artistas pudessem, eles mesmos, cadastrar e subir as músicas para comercialização. Era preciso desenvolver sistemas de autogestão e de monetização, que nem sempre se mostravam eficazes. Isso só foi possível em 2010”.
A paixão pela música brasileira e a crença de que o formato digital se popularizaria no Brasil (à época, a quinta economia do planeta), levaram Emmanuel a decidir pela instalação da empresa, primeiro no Rio e depois em São Paulo. Os primeiros interessados no trabalho da ONErpm foram selos ligados à ABMI e artistas como BNegão, que Emmanuel já conhecia. Depois, começaram aparecer artistas iniciantes, desconhecidos. “O Hungria (acima), hoje um dos maiores nomes da urban music nacional, é um exemplo disso. Começou a postar suas músicas na nossa plataforma descompromissadamente e quando passou a ter audiência, o chamamos e passamos a apoiá-lo em seus lançamentos, o que fazemos até hoje”, explica o executivo, orgulhoso por ter, segundo ele, sido um dos pioneiros na democratização na forma de distribuição e comercialização de conteúdo musical. “Os artistas iniciantes e os pequenos selos, satisfeitos com os resultados, passaram a propagar nossos serviços. Com a chegada do streaming, criamos ações agressivas de marketing para mostrar aos agentes da indústria que tínhamos ferramentas para atuar junto a Spotify, YouTube e outras plataformas. Resultado: boom!”, entusiasma-se o americano.
Hoje, são mais de 170 mil artistas (incluindo os pertencentes a selos distribuídos pela empresa) e mais de quatro mil canais de vídeos (YouTube) em todo mundo. No Brasil, a ONErpm trabalha, entre outros, com nomes como Eduardo Costa, Claudia Leitte, Nando Reis, Racionais (abaixo), KondZilla, Fernanda Abreu, Lenine, João Bosco & Vinícius e MC Loma. “Costumo dizer que hoje somos uma empresa de soluções. A base, claro, é a distribuição. Mas temos editora musical, criamos conteúdo em vídeo e prestamos outros serviços agregados. Oferecemos aos clientes (artistas, selos, youtubers) dados analíticos diários e mensais, contabilidade automatizada e ferramentas de autogerenciamento. E agora que a indústria como um todo está imersa no digital, estamos numa nova fase, investindo no desenvolvimento de carreiras”, explica Emmanuel.
Segundo ele, esta fase consiste de certa forma num olhar mais atento aos novos artistas e youtubers que se cadastram no portal da ONErpm para distribuir seus conteúdos. “Quando percebemos que este ‘cliente’ tem potencial, investimos em marketing e, em alguns casos, em produção. Por dia, considerando todos os países onde atuamos, estamos recebendo cerca de 350 cadastros – só da Russia, são mais de 30 diários”, acentua ele. Além de São Paulo e Rio de Janeiro, a ONErpm tem escritórios/estúdios de produção de vídeo em Moscou, Nova York, Nashville, Miami, Los Angeles, Cidade do México, Buenos Aires, Bogotá, Kingston e Madrid (esta, inaugurada em meados de junho). Em setembro, ele planeja abrir mais um escritório, desta vez na Nigéria. “O YouTube é muito forte por lá, os canais tem bastante audiência e acho que podemos agregar muito para o crescimento não só daquele mercado, mas também de outros países da África”, afirma Emmanuel, citando estudos recentes que indicam grande potencial de crescimento dos serviços de streaming até 2030. “Se acreditamos que o setor pode quadruplicar em dez anos, temos que apostar nos países emergentes”, crava.
A propósito, o norte-americano faz questão de valorizar a estreita parceria com o YouTube, onde a empresa registra mais de oito bilhões de visualizações mensais com seus lançamentos – nas plataformas de áudio, são 1,8 bilhão de plays mensalmente. “Hoje em dia, o YouTube é essencial para alavancar a carreira e dar visibilidade ao artista. Melhor: o próprio artista ou a equipe responsável por ele dentro ONErpm tem acesso a mecanismos que potencializam as possibilidades de visibilidade do vídeo, fazendo sua carreira bombar mais rápido. Ou seja, tudo é muito prático no YouTube. Não é necessário negociar com a plataforma, contar com seus editores para que o conteúdo seja promovido junto aos assinantes do serviço ou apareça nas páginas com relevância, por exemplo”.
FORMATO 360º
Em paralelo aos negócios da ONErpm, Emmanuel começa a usar seu selo Verge para testar fórmulas há tempos usadas pelas gravadoras. “Na ONErpm, nosso negócio é distribuição, mas dependendo do artista, chegamos a oferecer advances ou a assumir tarefas que não estão no escopo de atividades da empresa. Nesses casos, fazemos adiantamentos com base naquilo que esperamos receber sobre plays em determinado período. Caso aquele produto/artista não gere o valor adiantado, passam a valer cláusulas nas quais teremos direitos a percentuais sobre shows ou publicidade até o valor do advance ser zerado. Mas isso não é comum ocorrer na distribuidora. Já na Verge, essa prática deverá ser padrão – estamos começando a fazer com os contratados o que o mercado costuma chamar de negociações 360º”.
Com a ampliação da estrutura da empresa (hoje a ONErpm conta com cerca de 180 colaboradores) e da área de atuação, o grande desafio de Emmanuel Zunz e seus comandados é manter um serviço de qualidade, sem abrir mão do volume distribuído. Em todos os territórios onde a empresa está presente, ela mantem os chamados “clusters”, grupos de profissionais que atuam com foco em determinados segmentos. “Temos equipes especializadas em atender, por exemplo, artistas de funk, MPB, sertanejo, gospel ou rap. De acordo com as demandas e expectativas de resultados, essas equipes acionam outros braços da empresa, como Relações Públicas, Design, Mídias Sociais, Relacionamento com Plataformas, Relacionamento com Marcas/Patrocinadores e Produção de Conteúdo Visual. Raros são os artistas que estouram de uma hora pra outra. Em geral, o crescimento é orgânico, por etapas, feito de forma sustentável. E queremos estar juntos com estes artistas, ajudando-os a formar uma carreira sólida, duradoura e rentável”, finaliza o executivo.