Zezé Di Camargo & Luciano lideraram a execução em rádio nas décadas de 1990 e 2000. Foram dezenas e dezenas de sucessos. Além do talento autoral de Zezé, a parceria com o produtor Cesar Augusto e com compositores como Lucas Robles, Tivas, Antonio Luis e o próprio Cesar, gerou megahits como É o amor, Dou a vida por um beijo, Você vai ver, Pão de mel, Indiferença, Da boca pra fora, Como um anjo, Será que foi saudade e Dois corações e uma história.
Durante os últimos anos, Zezé & Luciano continuaram reinando no poderoso mercado sertanejo – claro, tendo ao lado não só colegas do passado como Chitãozinho & Xororó, Bruno & Marrone, Daniel e Leonardo, mas também duplas e artistas lançados nesta década, a partir da fase “universitária” do gênero. No entanto, o repertório de ZC&L executado pelas emissoras de rádio apresentou pouca renovação. Os lançamentos diminuíram, assim como a quantidade de novos hits.
Mas de 2015 pra cá, Zezé Di Camargo & Luciano retomaram a velha e boa verve romântica e voltaram a ocupar o topo das paradas. Primeiro com a balada Flores em vida, título aliás do último projeto da dupla, que inclui CD e DVD. “Eu estava na minha fazenda com o Gusttavo Lima, que convidou o Felipe Duran, ótimo compositor e arranjador, para nos visitar. Em determinado momento, Felipe pegou o violão e nos mostrou algumas canções inéditas. Quando ouvi Flores em vida, falei: esta tem a minha cara. Gostaria muito de gravá-la”, lembra Zezé. Em dezembro de 2014, ele e o irmão lançaram a canção no disco Teorias de Raul e no mês seguinte gravaram a versão ao vivo da faixa, em show em São Paulo que gerou o CD e DVD Flores em vida ao vivo, lançado pela Sony em maio de 2015.
Um ano depois, no último dia 16 de maio, os irmãos acertaram de novo, ao lançar nas rádios uma faixa solta que remete aos anos 1990 e àquilo que a dupla já fez de melhor. Trata-se da romântica e tocante Eu e você, cuja letra poética traz versos como “Eu e você somos fragmentos do mesmo arco-íris / você vê o mundo pela minha íris / Eu converso e canto pela sua voz / Eu e você temos um só corpo, coração e mente / Deus caprichou tanto quando fez a gente / que faz falta aos outros o que sobra em nós”. O lançamento comemorou tanto os 25 anos da dupla quanto os 79 anos de idade de seu Francisco Camargo, pai dos cantores. “Oficialmente, completamos 25 anos de carreira dia 19 de abril, mas decidimos fazer o lançamento da nova música na data de aniversário do nosso pai como forma de homenageá-lo. Afinal, ele sempre foi um apaixonado pelo rádio e fez deste veículo a porta de entrada para mostrar nosso trabalho ao público”, afirma Luciano.
DESCOBERTA NO RÁDIO
Foi através de uma FM que Emanoel Camargo, irmão e empresário de ZC&L, tomou contato com a bela Eu e você. “Eu ouvi a música no rádio e gostei muito. Gravei-a no celular e pedi aos produtores para fazerem um arranjo no estúdio, próximo ao estilo da dupla. Depois mostrei o resultado para Zezé e Luciano, que ficaram encantados. Na sequência fui atrás de informações sobre os compositores – os repentistas Raimundo Nonato Neto e Raimundo Nonato Costa, respectivamente da Paraíba e Ceará”, explica Emanoel. “É muito bom poder beber da fonte poética nordestina. Sou um admirador da cultura deste povo. Por isso, é um orgulho pra nós lançar esta obra”, afirma Luciano, sobre a faixa que ficou bem diferente da versão original graças aos arranjos de Hélio Bernal e Felipe Duran.
A característica delicada da obra favoreceu a interpretação de Zezé, cuja força vocal por vezes é questionada por internautas e blogueiros – desde que ele passou por uma cirurgia nas cordas vocais em 2007. “Se eu for a dez programas de TV, e cantar super bem, ninguém vai escrever que eu arrebentei na interpretação etc. Mas se eu tiver um probleminha qualquer, aí todo mundo vai sair falando”, lamenta ele, garantindo que está recuperado e que, como qualquer ser humano, está sujeito a eventuais falhas. “Nunca vou enganar o público. Minha voz pode sair rasgada, com defeito, mas não vou deixar de cantar nas apresentações ao vivo”, afirma Zezé.
Há alguns anos, ele foi um dos críticos do movimento denominado sertanejo universitário, por achar que aqueles jovens artistas não estavam criando um novo gênero e sim apresentando sucessos sertanejos com novas roupagens e batidas mais aceleradas. “Eu dizia que deveria haver uma depuração, porque era muita gente se lançando ao mesmo tempo, aproveitando a onda, e que com o tempo apenas os bons artistas permaneceriam. Acho que eu estava certo, pois é exatamente o que está acontecendo”, afirma ele, hoje admirador do trabalho de nomes como Jorge & Mateus, Cesar Menotti & Fabiano e Gusttavo Lima.
Com 25 anos de carreira, Zezé não precisa provar mais nada a ninguém, nem faz mais questão de protagonismos. Ele tem deixado Luciano cada vez mais a vontade no palco. Assim, o irmão – que gosta de pop/rock – tem sido responsável pela inclusão de elementos sonoros modernos nas gravações da dupla. “Com o tempo eu fui trazendo essa coisa pop para nossa música. Mas o Zezé e o repertório propiciaram isso. Menina veneno, Tarde demais e Faz mais uma vez comigo já apresentavam essa levada. O Zezé é um intérprete. E eu percebi que poderia interagir com o público, brincar, levar o show para cima. Acho que ajudei muito a valorizar a figura do segunda voz”, finaliza.