As cantoras sempre foram protagonistas na indústria fonográfica e no show business nacional. Pelo talento artístico, carisma, atitude ou repertório popular – itens muitas vezes comuns a várias delas –, nomes como Ângela Maria, Maysa, Elis Regina, Rita Lee e Ivete Sangalo já entraram para a história da música nacional. Nos últimos anos, esse time feminino ganhou outras adeptas, sobretudo representantes do sertanejo – como as duplas Maiara & Maraisa e Simone & Simaria e as cantoras Marilia Mendonça e Naiara Azevedo. Mas não é somente nos palcos e estúdios que o outrora sexo frágil vem brilhando. Com 17 anos de atuação na indústria, Tatiana Cantinho ocupa desde o início do ano a gerência artística da Som Livre, respondendo pelos produtos mais populares da gravadora. Um desafio e tanto. “O mercado da música é formado principalmente por homens, mas eu sempre fui bem aceita por todos – artistas, empresários e produtores”, afirma Tatiana, que antes atuava na área de Marketing – passou pela EMI, Sony Music (inclusive pela divisão latina da companhia, em Miami) e nos últimos cinco anos gerenciava este departamento dentro da Som Livre. “Durante todo esse tempo participei de muitas reuniões de concepção de produtos com o A&R. Por isso, me sinto preparada. É um grande desafio pra mim, mas o mundo está mudando a favor das mulheres. Mulher tem, sim, ouvido para música, pode sim virar a madrugada em estúdio e ainda tomar ‘umas’ ouvindo aquela moda boa… (risos). Espero ver cada vez mais mulheres em posições de liderança nas gravadoras e no mercado”, afirma. A seguir, confira a entrevista exclusivo com Tatiana Cantinho.
SUCESSO! – Você já tinha trabalhado anteriormente na área de A&R? Como se deu o convite para assumir a gerência artística na Som Livre?
Tatiana Cantinho – Ao longo dos meus 17 anos atuando no mercado fonográfico, nas áreas de marketing nacional e internacional, durante grande parte desse período participei da concepção de produtos e me envolvi com a música propriamente dita. Uma das questões que mais me motivaram a mudar de área foi a possibilidade de estar mais em campo, e ser efetivamente responsável e atuante na concepção artística, buscando e descobrindo novos artistas e sucessos. Além disso, todos os executivos de A&R com quem trabalhei ou conhecia de mercado eram homens. Desconheço uma executiva de A&R na história da indústria musical brasileira.Essencialmente sempre fui uma A&R. Sinto que sempre fiz isso e, agora, encontrei este espaço que foi provocado por mudanças estruturais na empresa. Meus gestores viram que eu estava pronta para assumir algo novo e me deram essa oportunidade de assumir a gestão do cast popular de A&R.
Você está responsável por um grupo de produtos?
Cuido dos artistas dos segmentos popular (sertanejo, samba e funk), infantil e religioso, assim como de projetos especiais dentro do segmento popular. O restante do cast está dividido entre o Paulo Monte (Slap e MPB) e Orlando Rodriguez (Austro – selo eletrônico da Som Livre). A gestão geral artística permanece com o Fernando Lobo.
Comparando com a área de MKT, o que tem sido mais trabalhoso e mais prazeroso para você neste primeiro momento?
São áreas que se complementam, ambas com seus respectivos desafios. Sempre busquei prazer no meu trabalho, fugindo da zona de conforto. Conhecer as especificidades, novos processos internos e a equipe são os prazeres mais trabalhosos. O A&R é o coração da empresa, é o que faz pulsar a emoção. Eu queria mais envolvimento, mais autoridade e responsabilidade sobre os artistas – além do trabalho que eu já conhecia no marketing. Meu objetivo é cuidar e acompanhar o dia a dia dos meus artistas. Acredito que um bom A&R é aquele que se envolve no todo, acompanha e ‘vive’ o artista. Esse é meu desafio.
Nesta nova fase, está discutindo com artistas e produtores a concepção de projetos, frequentando estúdios etc.?
Assumi a gerência artística há quatro meses e já estou participando da concepção de alguns álbuns que serão lançados em breve. Entre eles, os novos produtos do Raça Negra, Victor & Leo, Luan Santana, Gusttavo Lima e Aviões do Forró.
Você participará ativamente do projeto Som Livre Ao Vivo, cuja proposta é investir em produtos com potencial, levando-os aos mainstream, como aconteceu com Tiago Iorc e Lexa?
O A&R se envolve com todas áreas da empresa, buscando uma parceria completa com nossos artistas, de forma que o crescimento deles seja bom para todos, independente da área onde cresça mais, seja ao vivo, digital, editorial ou em projetos patrocinados. Temos todas essas áreas integradas dentro da Som Livre.
A propósito, poderia citar alguns desses novos nomes em quem você, particularmente, aposta e por quê?
2017 promete ser um ano de ótimos resultados e lançamentos de novos nomes para o mercado. Estamos negociando alguns nomes do sertanejo e do forró, que infelizmente ainda não posso revelar, mas sem dúvida podemos garantir que há muitos projetos de qualidade a caminho. Criação de conteúdo é uma das principais apostas da Som Livre, e para isso estamos construindo um estúdio de 200m2, onde os artistas novos e consagrados poderão criar novos conteúdos com frequência.
Está entre suas atribuições a de garimpar novos talentos? Se sim, como costuma fazer isso? Indo a shows indies, pesquisando na net?
Sim. Um misto dos dois. Há muita informação na internet, o tempo todo. Não se trata apenas do buchicho online, mas principalmente quando o artista chama sua atenção, e isso se dá especialmente ao vivo, nos shows. Estar na rua nos permite ver, ouvir e sentir realmente a verdade do artista e viver uma experiência diferente com a música.
Pode citar alguns cases de sucesso em que você esteve envolvida no período em que atuou no MKT da Som Livre?
São muitos que me enchem de orgulho. Dentre os mais memoráveis estão o lançamento do álbum Acústico, do Luan Santana (2015), em que fomos premiados pelo DMX pela criatividade e execução do plano, concebido desde a gravação do produto, passando pelas ações de pré-lançamento no Google Play e lançamento simultâneo no varejo e bancas de jornal (incluindo a participação do artista em uma grande rede, abrindo a loja à meia noite para marcar o lançamento nacional). Foi sem dúvida um dos dias mais emocionantes da minha carreira na Som Livre. A contratação de Victor & Leo pela companhia (em 2013) foi também um grande marco. Eu já havia trabalhado anteriormente com a dupla na Sony e tê-la aqui foi uma conquista pessoal incrível. O mais recente, ainda no Marketing e em parceira com as áreas digital e A&R, foi a concepção do projeto Agora é que são elas (2016), estrelado por Marilia Mendonça e Maiara & Maraisa. Aproveitamos a entressafra de lançamentos para gerar um conteúdo exclusivo para o digital. Os números impressionam.
Você participará da criação de trilhas e compilações ou apenas se envolverá em projetos dos contratados da companhia?
Trilhas sonoras, não. Compilações e projetos especiais, sim, especialmente aqueles focados no segmento popular.
Há artistas que fecham com a Som Livre achando que assim participarão com facilidade dos programas da TV Globo e terão suas músicas incluídas em trilhas de novelas. Isso procede?
Apesar de fazermos parte do mesmo grupo de comunicação, não temos preferência na linha de escolha de atrações musicais ou trilhas de novelas. No caso das trilhas, especialmente, a música precisa se adequar à temática e personagens da novela. A escolha de um artista pela Som Livre se deve pelo fato de sermos uma empresa bem estabelecida, com profissionais extremamente capacitados, cast de qualidade e que contribui para o crescimento e melhoria de música produzida no Brasil.
Quem são hoje os nomes da Som Livre que mais faturam, tanto no mercado físico como digital?
Ao longo de 2016, a Som Livre reforçou sua liderança no topo do ranking dos principais players, com 59% de market share no Top 10 e 26% no Top 200 – e hits que marcaram o ano. Contribuímos em peso para a dominância do conteúdo nacional. Mais uma vez, a dupla Jorge & Mateus fechou o ano como o artista mais ouvido no streaming, seguido por Henrique & Juliano. E tivemos Marilia Mendonça e Maiara & Maraisa, semana a semana, dominando os principais charts do mercado. No mercado físico, os padres Alessandro Campos e Reginaldo Manzzotti, o projeto Galinha Pintadinha e Luan Santana lideram o ranking.