Se o funk conquistou status de música pop do Brasil nos últimos anos, muito se deve ao trabalho árduo de artistas como Naldo Benny. Claro que não é de hoje que o batidão surgido no Rio de Janeiro ganhou os bailes de norte a sul. Porém, o carioca da comunidade da Maré foi um dos primeiros a apostar em uma estrutura grandiosa, inspirada principalmente em astros da música pop norte-americana. Isso ficou bem claro nos DVDs “Na Veia Tour” (2011) e “Multishow Ao Vivo Naldo Benny” (2013).
No ano passado, Naldo trabalhou duro e levou cerca de sete meses para criar aquele que considera o melhor disco da carreira. O título não poderia ser mais emblemático: “#Sarniô”. Na gíria da Maré, essa expressão quer dizer “fazer bem feito”. “Nesse disco, eu vou além do que havia feito até então. Muita gente me conhece por músicas como “Amor De Chocolate”, que tem pegada, mas não permitem que eu mostre a técnica vocal. Então, quis fazer algo mais rebuscado, sem deixar de ser dançante. Em “Meu Bem” – single anterior –, por exemplo, tem a gaita do Milton Guedes”, explica o cantor, referindo-se ao músico que já produziu trabalhos de nomes como Lulu Santos. A capa é assinada por Romero Brito, artista plástico pernambucano baseado em Miami (EUA). “Eu o conheci em uma das minhas primeiras idas aos Estados Unidos, há três anos. Daí, surgiu uma amizade e ele prometeu pintar um retrato meu. No fim das contas, o Romero acabou criando a arte da capa do álbum”.
Entre novembro e dezembro, Naldo colocou duas músicas de “#Sarniô” em rotação, cada uma com uma finalidade diferente. Começamos por “Latinha”, que teve seu clipe lançado em 24 de novembro. Em clima de verão, o vídeo intercala imagens de Naldo rodeado de mulheres em uma festinha na piscina e takes registrados em uma comunidade do Rio de Janeiro. O som, que une o funk com pitadas eletrônicas, foi concebido para bombar nas pistas de dança. E é isso que deve acontecer. “Realmente, essa música vai ser direcionada para os bailes. Ela tem uma pegada bem forte, tem a cara do verão”, diz o cantor.
Nas rádios, a grande aposta de Naldo é “Benny e Brown”, faixa que abre o disco e conta com a participação do rapper Mano Brown, do Racionais MC’s. Um dos pontos altos do trabalho, a faixa funde rap e funk em uma letra que fala sobre dois negros vindos da periferia que se dão ao luxo de ostentar um carrão importado, fruto do trabalho.
Talvez a parceria mais insólita de “#Sarniô” nem seja com Brown, mas com Erasmo Carlos. Assim como Naldo, o Tremendão também teve seu som questionado no início da carreira, simplesmente por ter inserido guitarras elétricas na até então imaculada música brasileira. O dueto ocorre em “Primeira Vez”. “Gravar com Erasmo foi tão emocionante que quase chorei”, conta. O álbum ainda apresenta parcerias de Naldo com MC Guimê e Catra na faixa-título, com a norte-americana K. Rose em “Faz sentir”, e com Pablo Jorge (seu filho) em “Nu Grau”. A produção ficou a cargo Naldo e de Batutinha. Mas o cantor também convidou o paulistano Pedro Dash e o duo norte-americano The Mekanics para atuar em algumas faixas.
TEM QUE CHEGAR, CHEGANDO
Para dar suporte a “#Sarniô”, Naldo coloca na estrada uma turnê tão planejada quanto o disco. Assim como vem acontecendo há algum tempo, faz questão de usar uma estrutura inspirada em espetáculos internacionais. “É uma coisa minha. Quero sempre ter zelo pelo meu trabalho, ser caprichoso. Mas é óbvio que a cultura norte-americana, com toda essa coisa de foco no espetáculo, em oferecer o melhor entretenimento, me influencia muito”, explica. “Tanto que em todos os shows que faço, inclusive na Europa, as pessoas ficam surpresas. Alguns ainda esperam que o MC chegue acompanhado apenas de um DJ”, completa.
Na estreia da nova tour, dia 3 de dezembro, no Rio de Janeiro, o público pôde conferir as novidades. “É um show completamente diferenciado. Trouxe novos bailarinos, mexi na banda, o cenário também é todo novo”, afirma Naldo. A estrutura completa só pode ser utilizada em grandes casas. Por isso, o segundo show nesse formato acontecerá apenas após o carnaval, em São Paulo. Para espaços menores, o cantor levará uma estrutura renovada, mas adaptada.