Entrevistas

Dois no palco: Nasi e Edgard Scandurra com O show Ira! Folk

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Quando começaram os ensaios para o projeto Ira! Folk, há alguns meses, Nasi e Edgard Scandurra não resgataram apenas velhas (e boas) canções de um dos grupos mais marcantes do rock nacional. A própria trajetória do Ira! – ao menos o início dela – parecia se repetir com os únicos remanescentes da formação original sozinhos num estúdio, cantando e tocando violão. “Quando me dei conta, estava revivendo o começo de tudo, quando conheci o Edgard, sentado num banco da escola, dedilhando seu violão”, lembra Nasi, nostálgico.

Essa volta ao passado resultou numa turnê nacional, iniciada no Teatro Positivo, em Curitiba, em maio. Idealizado para ocupar teatros e casas mais intimistas, o show traz releituras de sucessos e “lados B” da banda. Segundo Nasi, o projeto “desnuda” antigas canções. “Escolhemos músicas mais líricas de nosso repertório. E as apresentamos praticamente da maneira como nasceram. Com apenas minha voz e o violão do Edgard”, conta.

Essa escolha por algumas faixas menos conhecidas ou que não chegaram a ser singles, casos de Flerte fatal e Mudança de comportamento, não é algo inédito para o Ira!. “Já havíamos testado a fórmula no Acústico MTV (DVD de 2004), com O girassol e Eu quero sempre mais, que foram resgatadas, com ar de novidade. E isso faz todo sentido, porque ao longo de nossa carreira, deixamos várias canções mais comerciais de lado, às vezes até batendo o pé com as gravadoras, para divulgar músicas mais ousadas, conceituais… Por isso, algumas faixas com potencial pop talvez tenham sido mal exploradas”, reflete o vocalista.

Muito bem recebido pelo público em Curitiba, o show Ira! Folk rodará o país pelo menos até meados de outubro. Posteriormente, Nasi e Edgard pretendem se dedicar à gravação de um novo trabalho, quebrando um hiato de nove anos longe dos estúdios (Invisível DJ, de 2007, foi o último álbum de inéditas). A ideia é gravar e filmar tudo em estúdio, fazendo do DVD uma espécie de documentário sobre o registro do CD. O grupo pretende lançar o disco após o carnaval de 2017, possivelmente pela Sony Music. “Já conversamos com o Paulo Junqueiro, presidente da Sony e profissional que tem história conosco (foi co-produtor do disco Psicoacústica e mixou Vivendo e não aprendendo, álbum que consagrou a banda). Tivemos um papo longo e já falamos até sobre repertório e a cara que o disco deve ter”, entrega.

Curiosamente, o Ira! Folk tem servido como experiência para o futuro projeto. “Virou um laboratório para a escolha das músicas, já que temos sentido a reação do público a esse resgate de canções. O novo disco terá algumas dessas releituras, além de inéditas e músicas de outros autores”, explica. Nasi aliás se empolga ao falar sobre essa sinergia com os fãs: “Eles tem cantado todas as músicas no show. E o mais legal é que nesse formato, o público se ouve mais e nós também o ouvimos com mais força. Dá até pra sentir a respiração de alguns. É algo diferente pra nós, acostumados com muito barulho no palco”.

Paralelamente ao Ira! Folk, Nasi e Edgard seguem se apresentando com frequência ao lado dos novos integrantes Evaristo Pádua (bateria), Johnny Boy (teclados) e Daniel Rocha (baixista e filho de Edgard). “Os shows de rock continuam sendo nosso principal produto”, ressalta Nasi.

E pensar que nos últimos 35 anos tanta coisa aconteceu com aqueles dois estudantes que tocavam nos intervalos das aulas, em São Paulo. Altos e baixos na carreira, um retorno triunfal e até o “fim” da banda, com direito a brigas judiciais. Tudo ficou pra trás, na avaliação do roqueiro. “Hoje eu e o Edgard nos olhamos muito no palco, algo que não acontecia mais antes do grupo dar aquela parada. Há de novo uma energia entre nós. Os seis anos separados serviram para ambos desestressarem de uma rotina cansativa de shows e gravações. Foi ainda um alívio para nosso ego artístico, alimentado por nossas carreiras-solo. E foi positivo até para sentirmos saudade, um do outro”, conclui.

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