Entrevistas

Evandro Mesquita revela álbuns que marcaram sua vida

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Apesar do look jovial e do jeito de surfista da zona sul carioca, Evandro Mesquita já é sessentão, daqueles que vivenciaram importantes momentos da história mundial da música, sobretudo de seu gênero preferido, o rock and roll. Há 36 anos à frente da Blitz, banda que marcou época nas décadas de 1980 e 1990, Evandro faz parte da história do pop rock nacional. Convidado a participar desta seção de SUCESSO!, relacionando dez discos que marcaram sua vida e carreira, o cantor, que aprecia vários gêneros musicais, encontrou dificuldades para montar sua lista. “É muito complicado escolher só dez álbuns sem cometer pecados mortais e injustiças. Então, além dos citados na matéria, faço questão de mencionar a coletânea Woodstock: Music from the original soundtrack and more (1970), pela reunião de feras inesquecíveis que me abriram a cabeça com lindos sonhos delirantes, e todos os discos de Bob Marley (incluindo Cath a fire, da banda The Wailers, da qual ele participou antes da fase solo). Mais: com dor no coração, deixo de fora álbuns de Cartola, Moreira da Silva, Jackson do Pandeiro, João Gilberto e Zeca Pagodinho, entre muitos outros”. Confira o Top 10 de Evandro Mesquita:

1 – Sargent Peppers – The Beatles (1967)
“Economizei a mesada, comprei e viajei muito nesse álbum. Um delírio para todos os sentidos. As fotos, a colagem da capa, os arranjos das músicas, os vocais, os timbres das guitarras, baixo e batera. Os efeitos sonoros incorporados com precisão. Tudo perfeito. As letras cheias de códigos e mensagens nas entrelinhas – e outras, criadas pelos carentes ouvintes que saboreavam a refrescante sensação de bem estar, de degustar até o osso aquele vinil”.

2 – Panis et circenses – Mutantes (1969)
“Fundamental. Letras carregadas de humor e referências instigantes. Vocais perfeitos de Rita Lee, Sérgio e Arnaldo Baptista. Efeitos sonoros e execução de solos perfeitos de guitarra. Jovem, eu ficava esperando com ansiedade por um disco dos Mutantes”.

3 – Acabou chorare – Novos Baianos (1972)
“Antológico. Salada sonora, arretada, de ritmos e competência absoluta. Samba, choro, rock e reggae pra ninguém botar defeito. A alegria e o prazer de Baby Consuelo, o timbre marcante de Paulinho Boca com a voz e o violão do Moraes Moreira formam um ataque de ouro. A craviola e a guitarra feroz, delicada e fenomenal do Pepeu emocionam e arrepiam até a alma. Dadi mandando lenha em alto astral no baixo. Dadi dá o chão e Pepeu incendeia. Empurrado pela levada suingada e segura de Jorginho Gomes, a fera da batera. A percussão de Bolacha e Baixinho temperam com brasilidade as letras surreais e emocionantes de Galvão… Só satisfação! O astral de Gato Felix e a ‘moqueca’ de Charles Negrita completam com hurras e vivas essa criação coletiva da fina flor da nossa música”.

4 – Exile on main St. – Rolling Stones (1972)
“Stones conseguiram produzir esse album fantástico dentro de uma casa (na França) entre crianças, esposas, fãs, fios, botões, traficantes de drogas e quartinhos onde rolavam as gravações. Keith louco e lúcido pilotou esse avião. Junto com o Charles Watts ele preparava as bases, enquanto Jagger enchia de poesia e vocais essa obra prima do pop”.

5 – Band of Gipsy – Jimi Hendrix (1970)
“Hendrix, tendo a seu lado o baixista Billy Cox e o batera Budy Miles. Um trio perfeito. Hendrix continuava estraçalhando a ordem e a razão nas músicas e letras. Amo Axis bold as love (disco de 1967 da banda The Jimi Hendrix Experience) mas Band of Gipsys entrou aqui como poderia entrar qualquer outro álbum do maior guitarrista de todos os tempos”.

6 – Led Zeppelin II – Led Zeppelin (1969)
“Delicadamente estraçalhante. Quatro músicos virtuosos no ponto certo e iluminados deixam a alma exposta e nos arrepiam em cada uma das faixas que compõem esse álbum fundamental’.

7 – Dylan – Bob Dylan (1973)
“Meu poeta preferido! Nos formatos voz e violão ou com banda, com canções de amor, de protesto ou de profeta, ele acerta e desconcerta com melodias e letras. Gosto de tudo que ele faz, mas este álbum é emblemático”.

8 – Transa – Caetano Veloso (1972)
“Um disco com emoções à flor da pele em plena ditadura. Mesmo em meio à Censura, Caetano nos presenteia com mais esse clássico. Poeta em inglês e português, resgatando pérolas tradicionais com arranjos modernos e fortes, salpicados pelos solos e pelo violão de Jards Macalé. Muito prazer!”.

9 – Tommy – The Who! (1969)
“Uma ópera rock. Tive a felicidade de ter sido apresentado a esse disco pelo saudoso Zé Rodrix e pirei. Que história fantástica, que poesia, que arranjos delicados e fortes. E que competência dessas quatro feras, principalmente do gênio Peter Thoweshend, autor das canções. Um disco teatral surpreendente!”.

10 – Refavela – Gilberto Gil (1977)
“Nos anos 70, o Asdrúbal Trouxe o Trombone, nosso grupo de teatro, conseguiu comprar duas kombis. Numa levávamos o cenário e figurinos da peça Trate-me Leão. Na outra, nós, atores, seguíamos entre entradas e bandeiras descobrindo o Brasil. Gil tinha sido preso em Florianópolis e o AsdrúbaL, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Era um momento tenso. E algo que nos aliviava era a companhia constante em alto e bom som de Gil e seu recém-lançado LP Refavela. Que felicidade!”.

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