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Cauby deixará saudade por sua história e voz aveludada

Está sendo velado no salão nobre da Assembléia Legislativa de São Paulo o corpo do cantor Cauby Peixoto, que morreu no fim da noite de domingo (15) num hospital de São Paulo. Cauby tinha 85 anos e estava internado há alguns dias para se tratar de uma pneumonia. O enterro acontecerá no final da tarde desta segunda-feira no Cemitério de Congonhas.

Cauby nasceu em Niterói em 10 de fevereiro de 1931, numa família de músicos – seu pai tocava violão, sua mãe bandolim, os irmãos eram instrumentistas e as irmãs, cantoras. Estudou num colégio católico em sua cidade natal, onde chegou a cantar no coro da escola e também no coro da igreja que frequentava. No final da década de 1940, passou a se apresentar profissionalmente, após ser aprovado em programas de calouros de emissoras de rádio do Rio. Festejado como um dos maiores intérpretes da nossa música, tinha a voz caracterizada pelo timbre grave e aveludado.

Cauby gravou seu primeiro álbum em 1951 (“Saia Branca”). Na época, por não ser muito famoso, teve pouca repercussão. Em 1952, ele conheceu Di Veras, famoso empresário, conhecido por promover seus artistas usando mirabolantes estratégias de marketing. Ele levou Cauby a São Paulo, interessado em mostrar seu trabalho à direção da Rádio Nacional. Para tanto, Di Veras começou a conceber uma estética visual para Cauby. Exigiu que o cantor se vestisse como os crooners norte-americanos, para combinar com seu timbre vocal e jeito refinado de cantar. Deu certo. A partir de então, Cauby nunca mais dispensou cuidados com o visual – e viu sua carreira deslanchar.

Em 1956, ele apareceu no filme “Com Água na Boca”, cantando seu maior sucesso, Conceição. Na época, chegou a ser citado pela revista Time Life como “Elvis Presley brasileiro”. Em 1958, em excursão aos Estados Unidos, cantou com seu ídolo de infância, Nat King Cole, o qual dedicaria um disco em 2015. Em 1959, retornou aos EUA para uma temporada de 14 meses, durante os quais realizou espetáculos, aparições na televisão e gravou, em inglês, “Maracangalha” (Dorival Caymmi), que recebeu o título de “I Go”. O disco contendo a música, gravado em 78 rpm, fechou aquele ano como o quinto mais tocado nas rádios americanas. Na terceira visita aos EUA, algum tempo depois, participou do filme “Jamboreé”, da Warner Brothers.

Durante toda a década de 1960, limitou-se a apresentações em boates e clubes. A partir da década de 1970, apresentou-se com frequência em programas de televisão no Rio de Janeiro e fez pequenas temporadas em casas noturnas do Rio e de São Paulo. Em 1980, em comemoração aos 25 anos de carreira, lançou pela Som Livre o álbum “Cauby, Cauby”, com composições escritas especialmente para ele por Caetano Veloso (“Cauby, Cauby”), Chico Buarque (“Bastidores”), Tom Jobim (“Oficina”), Roberto Carlos e Erasmo Carlos (“Brigas de amor”) e outros. A faixa “Bastidores” acabou se convertendo num dos maiores sucessos do repertório do cantor. No mesmo ano, apresentou-se pelo Brasil com os espetáculos “Bastidores” e “Cauby, Cauby, os bons tempos voltaram”.

Em 1982, realizou exitosa temporada no 150 Night Club (capital paulista), com os irmãos Moacyr (pianista) e Araken (pistonista) e lançou o LP “Ângela e Cauby”, com Ângela Maria, o primeiro encontro dos dois cantores em disco. Desde então, fariam muitas temporadas em parceria com este e outros shows. Inclusive ambos estavam atualmente se apresentando no espetáculo “120 Anos de Carreira”. A última apresentação ocorreu no dia 3 de maio último, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No próximo final de semana, o show seria apresentado na Virada Cultural de São Paulo.

Ao longo da carreira, Cauby Peixoto recebeu dezenas de prêmios e tributos por seu talento artístico. O principal deles se deu em 2011, quando foi homenageado pelo conjunto da obra pela Academia Latina da Gravação (LARAS), entidade responsável pelo Latin GRAMMY. A cerimônia se deu em São Paulo, durante a realização da Expo Show Business, e o troféu (Academy’s President Merit Award) foi entregue a Cauby pelo maestro espanhol Luis Cobos, então chairman da LARAS, e pela cantora Elba Ramalho (foto abaixo). Quatro anos antes, o artista havia recebido o gramofone dourado da mesma academia pelo CD “Eternamente Cauby Peixoto – 55 Anos de Carreira”, vencedor da categoria Melhor Álbum de Música Romântica.

Em 28 de maio do ano passado, o cineasta Nelson Hoineff lançou o documentário “Cauby – Começaria Tudo Outra Vez”, que, em 90 minutos, narra sua trajetória e traz o artista opinando sobre vários assuntos.

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