Profissionais da indústria se reuniram nesta segunda-feira, 11, no Vagabond Hotel, em Miami, para discutir a ascensão da presença brasileira no Latin GRAMMY. Este ano, além dos finalistas nas disputas em Língua Portuguesa, houve recorde de artistas e técnicos do Brasil indicados nas chamadas categorias gerais. Os paineis também debateram as oportunidades e a necessidade de realização de intercâmbio cultural entre artistas brasileiros e latinos.
Nomes como Marcelo Castello Branco (UBC), Zé Ricardo (diretor de eventos como Rock In Rio e The Town), Kamilla Fialho (responsável pelo lançamento de Anitta, entre outros artistas, e que atualmente trabalha com o funkeiro MC Daniel) e Marcia Olival (diretora da Billboard para a área latina) participaram das discussões, coordenadas pelo portal de notícias Popline.
Os presentes concordaram que, caso o artista tenha interesse em potencializar sua carreira no exterior — o que pode gerar, além de receita financeira, indicações e prêmios internacionais, como o Latin GRAMMY –, é preciso sacrifício, parcerias, e de abrir mão, quase sempre, de um melhor faturamento no Brasil. Enfim, deixar um pouco a zona de conforto para assumir os desafios de uma nova carreira.
Eles lembraram o caso de Anitta, a artista que talvez melhor tenha entendido a necessidade de se fixar mais tempo no exterior para a realização de feats com artistas latinos e para promover os lançamentos junto à mídia internacional. “Somente um nome no Brasil, Anitta, foi capaz de deixar de ganhar dinheiro no Brasil para se dedicar a se promover no mercado externo. Hoje ela ganha muito dinheiro dentro e fora do Brasil e é reconhecida no mundo todo como importante nome do pop internacional”, disse Marcelo Castello Branco.
Além da questão financeira e da base de fãs hoje espalhada por todos os continentes, sobretudo o latino, todo o esforço de Anitta vem sendo recompensado com constantes indicações a prêmios disputadíssimos — neste ano, a carioca é finalista em duas categorias no Latin GRAMMY e acaba de ser indicada ao GRAMMY Awards 2025, com seu projeto “Funk Generation”.
A melhor maneira de buscar novos mercados é gravar músicas em parceria, seja quanto o assunto é gênero musical seja quando se busca entrar em outros países. “Mas é preciso critérios na escolha do feat. Não é apenas a comparar audiência nas plataformas e redes sociais e aceitar ou propor o feat. internacional. É preciso ter verdade na parceria, ter admiração mútua, porque isso se reflete para que a música seja bem recebida pelo grande público, Não vai acontecer nada da noite pro dia, sem trabalho árduo”, afirmou Zé Ricardo, que por outro lado também disse que precisa ser muito criterioso ao montar o line-up dos festivais que dirige, porque às vezes um nome internacional colabora com um brasileiro, entra na programação das rádios e passa a ser cotado para tocar em grandes eventos no Brasil, mas nem sempre se dispõe a visitar nosso país para divulgação ou realizar shows promocionais. “Se eu não sentir que esse artista está realmente interessado em trabalhar o mercado brasileiro, as chances dele diminuem”, disse o diretor.
Kamilla Fialho lembrou que propôs a Daniel trocar compromissos no Brasil na semana do Latin GRAMMY para poder estar próximo do ambiente do evento, de pessoas do mercado, já que ele deseja ampliar sua carreira para fora do país. “Daniel não está indicado, não vai fazer perfomance na cerimônia, mas mesmo assim se dispôs a vir. Acho que assim a gente mostra a outros artistas o quanto isso é importante. Possibilidades existem e são várias. Mas é preciso trabalhar. Antes, achávamos isso tão inacessível e agora, que é possível tocar em outros países, tem gente que quer que tudo seja fácil, que o sucesso se dê como num toque de mágica. Mas não é assim que funciona”, lembrou Kamila Fialho.
Ao final, os participantes dos paineis foram unânimes em destacar: os artistas brasileiros precisam definitivamente entender: nossa música é rica em termos sonoros, é respeitada e está entre as melhores do mundo. Mas só isso não basta. Cantando em português, somente em português, será bem mais difícil abrir mercados e alcançar popularidade em nível internacional. Por isso, é preciso muito trabalho, dedicação e, principalmente, a gravação de parcerias com astros de diferentes países.