Levar ao público os sucessos do Rei Roberto Carlos em versões rock n’ roll. Esta é a proposta da banda RC na Veia, liderada pelo radialista, baterista e produtor Dudu Braga, filho do principal ídolo romântico da história da música brasileira. São centenas de clássicos, lançados por Roberto nas últimas cinco décadas, dos quais 16 deles estão presentes no DVD concebido pela banda e gravado no fim de 2017, na Casa Natura, em São Paulo, com produção de Rafael Ramos.
Aliás, o registro mostra justamente que o alcance dessas canções eternas é ainda maior. “Como as músicas do Roberto estão muito presentes no inconsciente de todos, o objetivo foi fazer releituras não influenciadas por ele. Os músicos da banda se impuseram o desafio de fazer os arranjos como se estivessem ouvindo as canções pela primeira vez. Assim como a escolha dos convidados”, diz Dudu Braga, sobre o álbum que sai pela Sony Music.
Ele cita como exemplo uma canção mais recente. O RC na Veia chamou Digão, dos Raimundos, para tocar guitarra e ajudar nos vocais da romântica Esse cara sou eu. “O hit foi desnudado, levando-se em conta a sonoridade original. Foram mantidas melodia e harmonia, mas implementamos um punk rock a la Raimundos, numa repaginação que respeita tanto a versão original quanto mostra os quilômetros extras que cada uma das obras de Roberto pode ainda percorrer, com fôlego zerado’, resume o baterista. Apesar da citação do hit que embala homens apaixonados desde 2012, quando foi lançado como tema principal da novela Salve Jorge (Rede Globo), a primeira faixa de trabalho do DVD é outra – Além do horizonte, lançada originalmente em 1975. Na versão roqueira, a faixa tem a participação do guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, o que garante o aumento do volume e riffs distorcidos.
A trajetória do RC na Veia teve início há quatro anos. À época, Dudu realizava uma palestra sobre inclusão social, chamada É preciso saber viver. E sempre a finalizava com a versão dos Titãs para o citado clássico composto por seu pai e Erasmo Carlos. Até que um dia resolveu chamar o amigo e vocalista Alex Capella, com quem formava uma banda cover de clássicos do rock, para tocar a canção ao vivo no final de uma dessas palestras. “Fizemos essa e mais três músicas do repertório do ‘Paizão’ e a reação do público foi tão legal que, daquele dia em diante, passamos a tocar em todas as apresentações”, conta. Daí pra formar a banda foi um pulinho. Os músicos Fernando Miyata (guitarra) e Juninho Chrispim (baixo) se juntaram aos dois amigos e o primeiro show aconteceu em julho de 2014, no Na Mata Café, em São Paulo. Desde então, a banda tem viajado pelo Brasil, tocando sempre um repertório exclusivo de hits do Rei em versões roqueiras.
MUITOS CONVIDADOS
O DVD em fase de promoção pela Sony Music pode ser considerado uma experiência Roberto Carlos para várias gerações, em especial as mais jovens. O cantor Toni Garrido, do Cidade Negra, insere um pouco de reggae no hino da Jovem Guarda As curvas da estrada de Santos. Rogério Flausino, do Jota Quest, empresta seu carisma e estilo pop soul a Não vou ficar (sucesso do Rei de 1969, composto por Tim Maia), com o upgrade sonoro da guitarra de Andreas Kisser. Em outros momentos do DVD (e nos shows, claro), pode-se observar o ótimo vocalista Alex Capela interpretando, com atitude, outros hits do homenageado, casos de Quando, Sou terrível, É proibido fumar, Lobo mau, Ciúme de você, Splish, Splash, Ilegal, imoral ou engorda, Você não serve pra mim e Parei na contramão.
Ainda tem mais. O Rei não poderia ficar de fora da homenagem e do projeto do filhão. No final do show, ele sobe ao palco e canta com a banda Se você pensa, original de 1968. Na sequência, todos os convidados voltam e se juntam a Roberto e à banda para interpretar a canção que originou o projeto, É preciso saber viver. “Como ouço o Roberto desde sempre, consegui separar o filho do artista e manter uma visão profissional do trabalho dele. O que acontece com ele também, que consegue avaliar o meu trabalho com essa distinção, até porque ele é um roqueiro, sempre teve essa atitude e postura rock n’ roll. Se meu pai não tivesse realmente gostado e aprovado, com certeza falaria. Isso era decisivo, pois ele nunca poderia se sentir forçado a participar”, conta Dudu, afirmando que a banda selecionou e criou arranjos para algumas outras músicas, que no final acabaram ficando de fora. “É o caso de Quero que vá tudo pro inferno, que ficou muito funkeada. Aliás, de um jeito que eu adoro, mas que fugia bastante da proposta do projeto”, afirma o baterista.
No embalo do lançamento, o quarteto já caiu na estrada, com uma nova turnê, em que apresenta todo o setlist do DVD. “Em alguns shows especiais, vamos tentar levar os convidados que participaram da gravação (exceto Roberto Carlos). Em outros, dependendo da estrutura do local, talvez tenhamos essas participações gravadas, em telões. Sempre com a preocupação de não onerar muito o contratante. Nossa meta é viajar e tocar bastante em todo Brasil neste segundo semestre”, explica Dudu. A agenda de shows da banda está sob a responsabilidade da Olho Vivo Produções (de José Renato Melo), que gerencia a carreira da banda em parceria com o radialista João Carlos Ribeiro, o Joca.