Que fique claro, logo de início, ao leitor dessas linhas que a “trilogia” formada pelo álbum O Samba em mim – Ao vivo na Lapa” (lançado no segundo semestre do ano passado) e o CD e o DVD Coração a batucar (de 2014 e 2015, respectivamente) não representa uma volta de Maria Rita ao samba. Até porque, na avaliação da própria intérprete, nunca houve uma ruptura dela com o gênero. “Desde que o samba chegou definitivamente em mim, entre 2006 e 2007, nunca mais o larguei. E bem antes eu já flertava com ele. Porém, por excesso de respeito, nunca havia me aprofundado. Essa relação, à princípio pessoal e, a partir de Samba meu (de 2007), também profissional, nunca foi ou será, na minha cabeça, um ‘vai-e-vem'”, explica.
As regravações de É corpo, é alma, é religião (Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto), Cara valente (Marcelo Camelo) e Maria do Socorro (Edu Krieger), entre outros sucessos presentes no repertório de 20 faixas do DVD gravado na Lapa (sete a mais do que no álbum homônimo), tampouco tiveram fins mercadológicos. “Minha relação é com a arte, entende? Costumo montar o repertório dos shows, por exemplo, na mesma época em que estou trabalhando num disco novo. No início, era mais fácil montar o que chamo de ‘show do disco’. Mas hoje, com 15 anos de estrada, o processo ficou bem mais desafiador. Só que é um desafio maravilhoso. Para a gravação de O samba em mim, escolhi algumas canções de outros discos que simplesmente gosto muito de cantar. E com as quais o público acaba se envolvendo. Cara valente é um ótimo exemplo”.
Trazendo ainda diversas faixas do premiado Coração a batucar (ganhador de Disco de Ouro e do Latin GRAMMY na categoria “Melhor Álbum de Samba”, em 2014), Samba em mim – Ao vivo na Lapa (Universal Music) foi gravado na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Curiosamente, o show também serviu como despedida da turnê de Coração a batucar. Quanto ao local da gravação, alguns podem imaginar que a escolha se deu pela importância do icônico bairro da Lapa para o samba. “Na verdade, confesso que foi mais pela própria casa. Desde que encerrei lá a turnê do álbum Segundo, em 2006, a Fundição se tornou uma das minhas casas preferidas. Mas de certa forma, é uma de minhas preferidas também por estar na Lapa (risos). Não sei se daria pra falar de Fundição sem falar de Lapa…”
Treze anos separam este último projeto de Maria Rita da gravação de seu primeiro DVD, no Bourbon Street, em São Paulo. Mesmo com tantos discos gravados e shows apresentados neste intervalo de tempo, a cantora acredita que pouca coisa tenha mudado na hora em que sobe ao palco. “Lógico que 15 anos de estrada trazem um conforto, uma familiaridade com o circo… mas continuo nervosa e com a mesma sensação de responsabilidade por tirar as pessoas de casa para me assistirem. E a mesma gratidão por ser calorosamente recebida”, revela. Maria Rita segue se deparando com essas emoções com absoluta frequência, já que sua agenda de shows, em todos esses anos, nunca deixou de ser concorrida. A cantora costuma realizar uma média de oito a dez apresentações por mês, um número considerado confortável por ela.
CANJAS COM AMIGOS
E entre um espetáculo próprio e outro, há sempre um tempinho precioso para as famosas canjas com grandes amigos. Maria Rita gravou recentemente participações nos novos DVDs de Thiaguinho (na canção Desliga você) e Diogo Nogueira (em Beiral) e se apresentou no Sarau do Brown, projeto já tradicional de Carlinhos Brown – em Salvador, no final de janeiro. “Curto cada segundo ao lado de todos eles. Há uma energia enorme nesses encontros. Sou muito grata por ter o reconhecimento da classe”, conta.
Já a atual turnê da artista, iniciada no final de 2015 e intitulada Samba da Maria, tem percorrido todo o Brasil e chegará a grandes teatros e casas de espetáculo de São Paulo, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre neste mês de março. O show é uma espécie de “trabalho paralelo”, segundo palavras da própria artista, por não se basear em nenhum CD ou DVD. No repertório, destacam-se sambas com valor afetivo para a intérprete, incluindo sucessos de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Alcione, Beth Carvalho e até um samba-enredo da escola paulista Vai-Vai.
Embora os fãs adorem cair no samba com a cantora, o que fica muito evidente em cada uma de suas apresentações, Maria Rita conta que não são poucos os pedidos para que ela cante mais MPB nos discos e shows. Indago no final de nossa entrevista se isso pode vir a acontecer num próximo projeto: “Ainda não sei, mas a verdade é que tenho zero preocupação com sonoridade e com gênero. Sou uma intérprete e, como tal, só posso cantar o que me completa. Honestamente, pra mim música é música. Independe de gênero. E o samba me abraçou de uma maneira que não tinha acontecido antes. Com ele, me sinto plena”.