Irreverente e multitalentoso, Supla é bem mais que cantor. Em 30 anos de carreira, recém-completados, já fez de tudo um pouco. Explodiu no cenário do rock nacional nos anos 80, na sequência virou celebridade ao participar de novelas e programas de TV, logo largou tudo, confinando-se por sete anos em Nova York, onde mergulhou no universo do punk rock e absorveu, segundo suas palavras, tudo o que sabe em termos de música e de cultura pop. Voltou ao Brasil no início dos anos 2000, entrou no reality Casa dos Artistas (SBT), a convite de Silvio Santos, e tornou-se fenômeno de massa. “Só queria ficar uma semana, ganhar R$ 20 mil reais e voltar pra Nova York. Fiquei até o final do reality, ganhei muita grana e vendi quase um milhão de cópias”, lembra ele, sobre o programa que bateu recordes de audiência – chegou a alcançar quase 50% do share da TV aberta na época.
Supla se manteve em suas múltiplas atividades, agregando as funções de apresentador de programa e garoto propaganda, mas nunca abandonou a música, sua paixão maior. Entre 2008 e 2015, esteve ao lado do irmão João Suplicy à frente do elogiado projeto Brothers of Brazil, mesclando rock e MPB. O projeto gerou cinco álbuns, dois programas de TV que ficaram no ar durante três anos e centenas de shows – cerca de 500 só nos Estados Unidos e Reino Unido. “Deu certo porque foi a união de duas personalidades diferentes – eu, com minha veia roqueira, e o João, com sua MPB. As letras tinham conteúdo e a musicalidade foi imediatamente apreciada tanto aqui como no exterior. Além disso era a união de dois irmãos, algo bonito de se ver. A relação, claro, tinha altos e baixos. Saía faísca às vezes, mas aquilo era um exercício de convivência e de produção musical que deu muito certo. Paramos porque o casamento deu ‘tilt’ – cada um de nós passou a querer levar demais o som para o seu lado e havia o desgaste de muitas viagens. Mas guardo com muito carinho tudo o que conquistamos juntos”, diz ele, não descartando a possibilidade do projeto voltar no futuro. “Com certeza, o Brothers tem muito mercado, aqui e lá fora”, ressalta.
Em 2016, o artista voltou à fase solo. Lançou o livro ilustrado “Crônicas e Fotos do Charada Brasileiro” e o disco “Diga o que você pensa”. É com o repertório deste álbum que Supla vem se apresentando. Entre os destaques do disco estão a faixa-título, American youth, Fanáticos virtuais, Extremistas fundamentalistas e Garotas tristes. Além destas, o cantor apresenta seus grandes hits, como Garota de Berlim, Humanos e Japa Girl, a atual música de trabalho, Waiting in Tokio, cuja gravação conta com a participação da cantora Victoria Petrusky (da banda norte-americana Loose Animals), e algumas versões para clássicos de nomes como Ramones, David Bowie e Beatles. Em setembro, Supla se apresentou pela quinta vez no Rock in Rio – tocou no dia 24, no Palco Sunset, com a banda Doctor Pheabes. Um pouco antes no fim de agosto, viajou à Califórnia, para cumprir quatro datas – uma delas no festejado festival de punk rock It’s Not Dead, em San Bernardino.
Maleável, Supla mexe no repertório a pedido de contratantes, oferecendo vários formatos de shows. “Depende do espaço e da verba. Tenho um formato acústico, com a banda, outro totalmente rock and roll, no qual toco meus sucessos, faixas lançadas pelo Brothers (como On my way) e vários covers que me influenciaram. Neste show, a equipe é grande, com bailarinas que fazem performances de acordo com as músicas e um palco que remete a um barco de pirata… Este é o show mais adequado também para eventos corporativos. É diversão garantida!”, afirma o artista, completando: “E tem o show pub bar, basicamente com o mesmo repertório mas sem aquela produção de teatro”. Quem vai a uma apresentação do Charada Brasileiro, percebe que as músicas que mais mexem com o público são Garota de Berlim, Humanos, Motocicleta endiabrada (“quando entro de moto a galera vai ao delírio”, sorri), além de covers dos Ramones e de David Bowie. “Tenho uma versão punk rock para Imagine (John Lennon), que também empolga muito!”, lembra.
COM A MÃO NA MASSA
Embora seja um artista conhecido e consagrado, Supla não se comporta como pop star. Seu staff é pequeno e ele é sempre solícito, seja com jornalistas, radialistas ou contratantes. Quando o show é próximo à sua base (São Paulo), por vezes chega a ir dirigindo o próprio carro, assim como interfere junto a contratantes quando há alguma questão a ser resolvida para que a negociação seja fechada. “Aprendi isso nas minhas experiências fora do Brasil, morando e tocando na gringa. Lá o artista coloca a mão na massa, fica a par de tudo o que diz respeito à sua carreira”, afirma, ressaltando: “eu participo das negociações até certo ponto. Tenho meus representantes, profissionais que me ajudam. Cada caso é diferente um do outro, tem que saber ‘jogar’……Por isso, recomendo a todos artistas que não deixem tudo nas mãos do empresário/agente”.
Indagado sobre os momentos mais marcantes nessas três décadas, Supla afirma: “são muitas lembranças bacanas… Ter tocado na histórica edição do Rock in Rio de 1991; o show de lançamento da banda Tokio no teatro do Masp (1986); ter participado da ‘Warped Tour’ em 2011 (maior festival itinerante dos EUA); ter me apresentado na BBC de Londres (em 2012, com o Brothers of Brazil); ter cantado no festival Planeta Atlântida, logo após minha saída da Casa dos Artistas (2001); ter me apresentado no Lollapalooza (2014) e no Greak Theatre/Los Angeles (2011) – tocando com meu irmão no ‘abre” do show do Adam Ant (o Brothers fez uma série de shows com o astro pop)… Entre os best moments, destaco algumas participações musicais, como a da alemã Nina Hagen cantando comigo a famosa Garota de Berlim e o Cauby Peixoto, em Romântica (ambas em 1985). Poderia mencionar também como marcantes a participação em longas metragens, novelas, minisséries e realities. São muitas lembranças bacanas”, elenca. No dia 2 de novembro, o canal Bis Multishow exibirá um especial sobre os 30 anos de carreira do roqueiro.
Defensor ferrenho do rock and roll em todas as suas vertentes, Supla desconversa quando perguntado o que faria se tivesse o poder de incrementar o mercado do gênero no Brasil, para que ele voltasse a ter a importância de outras épocas. “Não penso nisso, faço minha parte. Estou no meu décimo quarto álbum (ele lançou Diga o que você pensa no começo de 2017) e já estou preparando o décimo quinto para o final do ano”, afirma ele. O primeiro single deste projeto, que terá faixas em inglês e português, é Waiting in Toquio, lançado recentemente nas rádios e plataformas.