A música 10% foi a responsável por levar as cantoras tão longe. Na letra, elas contam uma história que, até pouco tempo, não era comum em vozes femininas: uma pessoa no bar, ouvindo um modão e bebendo para esquecer uma desilusão amorosa. Está aí o mérito dessa nova geração de cantoras sertanejas. Elas não dão a mínima para o machismo e não se prendem àquela postura delicada e romântica comum à maioria das cantoras. “A gente canta o que gosta. Se você prestar atenção, vai perceber que é um repertório unissex, não tem essa de música que só pode ser cantada por mulher ou homem. Mas ficamos felizes por fazer parte de uma geração que está colocando a mulher cada vez mais em evidência no sertanejo”, afirma Maraisa.
Para dar sequência ao ótimo trabalho feito com 10%, Maiara & Maraisa surgiram com mais um single arrasa quarteirão, Medo bobo. Dessa vez, o romantismo – ou a sofrência, como diz a massa – falou bem alto. Assim como a música de trabalho anterior, a atual faz parte do único DVD das irmãs, Ao vivo em Goiânia. Nesse registro, Medo bobo é apresentada em uma performance solo da segunda voz, Maraisa, com um tom grave bem característico e afinação impecável. Nos shows, elas cantam juntas, com Maiara na segunda voz. Aliás, aí está mais um trunfo dessa dupla: a afinação. Em um mercado saturado, é comum o surgimento de artistas com talento discutível. Mas ao ver essas garotas no palco, é impossível não constatar que estamos à frente de artistas completas, forjadas em anos de estrada, que passaram por todas as fases até chegar a uma perceptível maturidade artística. Isso também fica claro na maneira como elas conduzem o espetáculo, seguras do que estão fazendo e com um carisma inegável. Durante toda a apresentação, Maiara & Maraisa retribuem o carinho do público que as tratam como amigas próximas. “É natural, a gente faz o que ama. E depois de tanto correr atrás, estamos recebendo de volta. O melhor prêmio para qualquer artista é o reconhecimento e o carinho do público”, diz Maraisa.
Voltando ao DVD Ao vivo em Goiânia, trata-se do primeiro registro do tipo na carreira da dupla. A gravação aconteceu no Santafé Hall, em março de 2015. A direção musical ficou a cargo de Eduardo Pepato, que teve um papel fundamental na definição da sonoridade e escolha do repertório. “A gente ficou uns três meses compondo para esse DVD e, alguns dias antes, tivemos uma reunião com o Pepato e a banda que nos acompanharia na gravação. Nesse dia, ele zerou tudo. Disse que não era aquilo que ele queria. Estávamos compondo cerca de 40 músicas por mês, mas elas estavam muito ‘mulherzinha’, querendo falar para um homem. O Pepato nos mostrou que a gente tinha capacidade de fazer mais, que poderíamos apresentar um repertório que Jorge & Mateus, Cristiano Araújo e Bruno & Marrone gravariam”, relembra Maiara.
Esses três grandes nomes do sertanejo participaram do DVD. Cristiano Araújo dividiu os vocais com Maiara & Maraisa na faixa Se olha no espelho. Menos de três meses depois da parceria, o cantor viria morrer em um acidente automobilístico. As outras participações ficam por conta de Jorge & Mateus, em Fala a verdade, Bruno & Marrone, em Dois idiotas, e Marília Mendonça, que se junta à dupla em Motel. A parceria entre Maiara, Maraisa e Marília Mendonça vai muito além dessa música. Muito antes do DVD, Marília já era parceira de Maraisa em composições de sucesso nas vozes de outros artistas. Ao lado de Juliano Tchula, elas também assinam No dia do seu casamento, primeira música de M&M a chamar atenção do grande público. Gravada em 2013, a faixa chegou a ganhar um clipe com ares de superprodução e direção assinada por Rafael Terra.
No fim do ano passado, essa parceria ganhou uma merecida turnê própria, a Festa das Patroas. “A Festa veio para celebrar esse momento especial que estamos vivendo. Nós e a Marília tivemos uma trajetória mais ou menos parecida. Sonhamos e compusemos juntas, esperando o momento em que nossa carreira também decolaria em cima dos palcos”, diz Maraisa. “Durante todo esse tempo, fomos ficando cada vez mais próximas da Marília, até o momento que entramos na Workshow, onde ela já estava”, completa Maiara, que fala mais sobre o show. “É uma festa totalmente voltada às mulheres. Nosso público feminino é muito grande, até porque nós falamos a língua das mulheres”. No setlist, as cantoras apresentam sucessos do repertório de cada uma. O balé é formado apenas por homens.
Mesmo tendo sido gravado no início de 2015, o Ao vivo em Goiânia mostrou ter bastante fôlego. Nem por isso, Maiara & Maraisa decidiram se acomodar nos louros do sucesso. Desde março, o staff da dupla vem cuidando dos preparativos para o próximo projeto, que será gravado dia 29 de outubro, no estacionamento do Shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande (MS).
UMA VIDA NA MÚSICA
As gêmeas Maiara & Maraisa nunca tiveram outra ocupação em suas vidas. Desde os primeiros anos, elas já sabiam que queriam viver de música e se dedicaram a esse sonho. “A música nunca foi uma brincadeira na nossa vida. Aos cinco anos de idade, já participávamos de festivais, levando muito a sério. Com o passar do tempo, fomos estudando, nos profissionalizando e a dupla foi se desenhando”, conta Maraisa. Mas antes do sucesso, as irmãs passaram por diversas fases. Durante um período, se apresentaram como dupla Geminis. “Na época das Geminis, nós éramos duas meninas de 14 anos e o trabalho tinha uma orientação mais pop. De lá pra cá, a gente foi amadurecendo. Pra fazer sucesso, é necessário ter talento e também uma cabeça boa, tranquila, para lidar com as pressões e críticas que vem de todos os lados. A gente foi adquirindo essa ‘casca’ com o tempo”, declara Maraisa.
Ainda antes do projeto Geminis, Maiara & Maraisa gravaram um EP raríssimo, com quatro canções. Entre elas, a autoral Estava escrito. As outras são versões de três grandes mulheres da Música Popular Brasileira – Quem de nós dois, gravada por Ana Carolina; Como nossos pais, composição de Belchior, imortalizada por Elis Regina; e Dizer não, da cantora Joanna. “Apesar de sermos do sertanejo, nossas influências vão muito além. Cantoras como Claudia Leitte, Ivete Sangalo, Solange do Aviões do Forró e Elis Regina nos influenciaram a não desistir, a enfrentar o preconceito”, afirma Maraisa.