Em meio à efemeridade do mercado musical atual, poucos artistas conseguem longevidade na carreira, sem comprometimento à qualidade do trabalho. Toquinho se encaixa perfeitamente nessa descrição. Em cinco décadas de trajetória, ele construiu um currículo invejável – mais de 450 composições, 82 discos e cerca de 10 mil shows pelo Brasil e exterior. Em entrevista à SUCESSO!, o artista fala dos 50 anos de atividades e do DVD gravado recentemente para comemorar a data.
SUCESSO! – Que análise você faz dos 50 anos de carreira?
Toquinho – Perdura a sensação de uma constante renovação e de um contínuo aprimoramento. A cada ano, vivenciei a descoberta de novas técnicas e desafios. Essa longa trajetória só pôde ser alcançada com muita dedicação. Eu me considero um artesão, sempre apoiado no violão que representa o início e o desenvolvimento de tudo. Penso muito na música “Para Viver Um Grande Amor” (letra de Vinícius de Moraes): “Eu não ando só / só ando em boa companhia / com meu violão / minha canção e a poesia.”
Ao longo dessas cinco décadas ocorreram várias mudanças tecnológicas e hoje o CD é uma mídia obsoleta para alguns gêneros, já que os lançamentos são feitos no formato digital. Para a MPB, o CD ainda é importante?
É inegável o avanço das mídias digitais. O artista tem de aproveitar todas as formas de consumo que a tecnologia proporciona. O CD é sempre um cartão de visitas elegante e funcional – e continua sendo vendido em shows. O que importa é a qualidade artística, cuja dimensão é valorizada em qualquer veículo de consumo.
Você gravou um novo DVD para comemorar os 50 anos de carreira. Fale a respeito.
Esse DVD mostrará um resumo da minha trajetória contando com a companhia de parceiros e amigos que contribuíram para o fortalecimento dessa caminhada. A gravação foi feita no dia 25 de março, no auditório do WTC (em São Paulo), e contou com a participação especial das cantoras Anna Setton, Tiê Biral e Verônica Ferriani, de Paulo Ricardo e do meu querido parceiro Mutinho. Não há nenhuma música inédita, mas o repertório foi escolhido com muito cuidado. Estou confiante em mostrar um belo trabalho ao público. Talvez venha a incluir nos extras participações em shows com Ophélie Gaillard, Maria Creuza, Carlos Lyra e Roberto Menescal, uma gravação em estúdio com Eliane Elias e, se houver tempo hábil, gravar algumas externas com Chico Buarque, João Bosco e Ivan Lins.
Você oferece ao mercado uma gama variada de formatos de shows. Fale sobre isso.
Meu extenso repertório facilita a variação dos formatos dos shows. Além disso, como instrumentista, posso me apresentar só com meu violão e proporcionar um espetáculo ainda mais intimista, além dos shows feitos com banda. Desde o início da carreira, costumo dividir o palco com cantoras ou amigos compositores que valorizam o show. Ao longo desses 50 anos, já fiz shows nos mais diversos locais, teatros adequados e modernos até salas de aulas de universidades; praças públicas de grandes cidades ou de vilarejos europeus; shoppings e casas de família. Sou um democrata da geografia artística. Essa versatilidade permite me reinventar. Hoje, a Circuito Musical, que cuida de meus negócios, oferece as seguintes formações: Toquinho solo; Toquinho, voz e violão com as cantoras Anna Setton ou Verônica Ferriani; Toquinho e banda; Toquinho, Ivan Lins e MPB4 (50 Anos de Música); Toquinho, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Tiê; Toquinho para crianças; Toquinho Sinfônico; Toquinho – Violões do Brasil, entre outros.
Mesmo com a carreira consolidada e com músicas que se tornaram hinos de gerações, você nunca parou de compor. Qual a sensação de tocar uma música nova em um show?
O público é ávido por novidades. Prefiro compor no ritmo do cotidiano e mostrar as canções novas no tempo e na hora devida, sem pressa ou pressões. Na atual fase da minha carreira, os sucessos sempre se sobrepõem às novas composições, mas às vezes “solto” uma ou outra nos shows. Uma das canções que sempre me pedem é “Quem viver, Verá”, do meu mais recente CD, lançado em 2011.